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Indignação reprimida 2w304g

      Multiplicam-se em todo o país, até nos mais longínquos rincões, as manifestações  contrárias à Medida Provisória do governo federal que instituiu no Brasil o serviço médico civil obrigatório, oficializando o trabalho escravo e criando uma  medicina para pobres, a ser praticada por “médicos de pés descalços”, importados de outros países e dispensados de revalidar seus diplomas, conforme manda a regra estabelecida pelo próprio governo, como se não bastasse as suas próprias inconsistências: a inconstitucionalidade, a desigualdade que produz,  o autoritarismo, a incoerência  e o proselitismo político.
     Dessa vez, chegou ao meu conhecimento um  texto muito bem escrito, de autor renomado, que expressa seu ponto de vista sobre o Brasil atual. Trata-se do Dr. José Camargo, pioneiro em transplante de pulmão na América Latina, em 1989, tendo realizado cerca de 300 transplantes de pulmão e sendo o único a realizar transplante de pulmão com doadores vivos fora dos Estados Unidos. Foi o idealizador e hoje dirige o Centro de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre, e é Diretor de Cirurgia Torácica no Pavilhão Pereira Filho, também da Santa Casa, tendo realizado mais de 30.000 cirurgias de tórax. Tem centenas de publicações científicas e já proferiu cerca de 900 conferências, em 22 países.
     Peço licença aos meus leitores para transcrevê-lo nesse espaço, com o objetivo de fazer um contraponto às baboseiras que tenho lido de alguns setores da imprensa que, sem nenhum embasamento técnico,  simplesmente se deixam levar por  paixões inexplicáveis, esquecendo-se da máxima do bom jornalismo que é o de informar com imparcialidade.
     De fato, fica muito difícil justificar a defesa apaixonada dessa  ação estabanada  do governo, quando tantas inconsistências são observadas, conforme já descritas anteriormente. Por outro lado, fica mais difícil ainda entender a intenção deliberada de procurar desqualificar e tentar desmoralizar a prestigiosa classe médica sergipana, com termos sistematicamente ofensivos. A não ser que existam outros interesses em jogo,  fora da minha percepção.
   Mas vamos ao texto do ilustre médico, que dignifica a medicina, como tantos outros por esse Brasil continente. O título é “Indignação Reprimida”
  “Todos os que tentam explicar  a intensidade crescente do clamor do povo nas ruas, citam fatos e circunstancias, mas há um pasmo geral pela densidade dos protestos que revelam uma demanda de indignação reprimida, a ponto de uma simples revolta pelo aumento do preço de agens ter servido de gatilho para um movimento que não parece ter data para terminar.
    O que impressiona mais é a mudança de atitude de um povo que aparentava alienação e que, de repente, se descobriu poderoso e indomável.
    Há cerca de três anos, estava em São Paulo esperando um avião para voltar para casa, quando fui surpreendido pela greve dos controladores de voo e assisti estarrecido à naturalidade com que centenas de ageiros, diante da noticia de que não haveria decolagens naquela noite, assumiu a postura de cordeirinhos submissos, e sem mais que uns resmungos inconsequentes, deitaram no chão do saguão do aeroporto de Congonhas, a lamentar sua sorte, conformados e inertes.
Aquele gesto representou para mim o emblemático comportamento de um povo que, desrespeitado nos seus direitos mais elementares, se encolheu como um cão de rua, revelando a perda absoluta de sua incapacidade de indignação.
Mas aquilo foi apenas um incidente minúsculo do infindável rosário de atropelamentos de sua já combalida auto-estima. Mais estava por vir. E veio.
    Depois disso, as denúncias de corrupção inundaram os noticiários, a falta de segurança nos transformou em pigmeus amedrontados, os mais pobres aram a morrer nas filas de espera por atendimentos nos hospitais sucateados, enquanto se construíam arenas milionárias em cidades onde nunca mais se jogará futebol depois da Copa.
    Como a espiral do acinte é ilimitada, se sucederam alguns primores de humilhação: um senador que renunciara temendo ser cassado por corrupção, voltou ao palco do poder para assumir a presidência da casa, deputados condenados no processo do mensalão assumiram postos na Comissão de Constituição e Justiça (!) e, quando se sentiram intocáveis e prestigiados, iniciaram um movimento para reduzir o poder de quem os condenara.
    Em nome da governabilidade, que é a justificativa técnica para o que conhece como conchavo, os ministérios se multiplicaram e, até as 17 horas, quando enviei esta coluna, já eram 39.
    Quando a crise da saúde pública ficou intolerável, os médicos foram convocados para assumir a culpa, porque eles se negavam a trabalhar nos rincões mais remotos do País sabendo que lá não existem hospitais, nem exames elementares, nem medicamentos, e que estariam condenados ao exercício de impotência de assistir às mortes evitáveis.
    Diante da negativa, a solução solerte foi anunciar a importação de médicos estrangeiros sem exame de capacitação, quando os bem informados sabem que tudo não a de uma manobra despistadora para repatriar os companheiros, que incapazes de ar no vestibular no Brasil, foram enviados para um faz de conta de estudar medicina lá fora. E agora estava hora de trazê-los de volta para a pátria amada, idolatrada.
    E claro, sem nenhum exame de revalidação, que serviria para desmascarar o arremêdo de formação técnica que tiveram. Se não fosse assim, por que se recusar a fazer a prova a que se submetem regularmente todos os estrangeiros que pretendam fazer medicina em outro país?
   Verdade que o povo mais humilde não lê jornais, mas pela TV, antes da novela das 9, deve ter ficado estarrecido quando anunciaram que o governo brasileiro, no instante em que a economia estagnou e inflação está de volta, anunciou garboso, o perdão de uma dívida de quase um bilhão de dólares.
    Com esta sucessão de sandices e desmandos, se acabou atingindo o limite de tolerância. A pressa em consertar os estragos, e o turbilhão de projetos desengavetados (e se eram tão bons porque não foram utilizados antes?) revelam a enorme perplexidade que tomou conta dos nossos governantes.
    Provavelmente o maior erro que cometeram foi ignorar que quem é obrigado a dormir no chão, um dia levanta com raiva. Muita raiva!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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