Prof. Dr. Lucindo José Quintans Júnior Bolsista de Produtividade do CNPq (Nível A) Professor Titular no Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe E-mail: [email protected] A Universidade Federal de Sergipe (UFS) bateu seu próprio recorde. No resultado preliminar da Chamada CNPq nº 18/2024 – Bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) e Desenvolvimento Tecnológico […] 1mv57
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]]>Prof. Dr. Lucindo José Quintans Júnior
Bolsista de Produtividade do CNPq (Nível A)
Professor Titular no Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe
E-mail: [email protected]
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) bateu seu próprio recorde. No resultado preliminar da Chamada CNPq nº 18/2024 – Bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) e Desenvolvimento Tecnológico (DT), a instituição apresentou uma performance impressionante. Mas, antes de tudo, o que é mesmo uma bolsa de produtividade? Bem, bolsas de produtividade consistem em um apoio financeiro concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a pesquisadores com destacada produção científica, tecnológica ou de inovação.
No edital lançado no ano ado e cujo resultado foi divulgado no último dia 15 de maio, a UFS emplacou 42 aprovações: uma bolsa nível A (a cereja do bolo), três de nível B e 38 de nível C – este último, a porta de entrada para o seleto grupo de pesquisadores com essa honraria. Parafraseando um certo presidente, nunca antes na história da UFS tantos pesquisadores foram contemplados em um só edital. O antigo recorde era de 36 bolsas, em 2021. Agora são 42. Um feito ímpar.
Mas a matemática, claro, não revela tudo. Por trás dessa escalada está o que as conceituadas casas de análise científica chamam de “perfil agressivo de produção qualificada”. Basta uma visita ao SciVal – a Bloomberg dos indicadores bibliométricos – para ver que as Ciências da Vida, as Exatas e as Ciências da Natureza puxam a fila das bolsas de produtividade na UFS. As três áreas apresentam alto impacto, colaborações internacionais em expansão e uma constância de publicação, deixando pouca margem para dúvidas. Não se trata de medir cada artigo com régua de ouro, mas de olhar o todo, como fazem o SciVal, o CNPq e a CAPES. Uma lógica até certo ponto enviesada – porque ignora o nível de investimento (ou sua crônica ausência), as dificuldades estruturais e as assimetrias regionais que ainda limitam a produção científica fora do eixo. Mas, bem, é a regra do jogo. E, enquanto ela não muda, nos cabe jogar com inteligência.
Ainda assim, há mais a celebrar. Pela primeira vez, metade das bolsas nos níveis mais elevados (A e B) foi destinada às Ciências Humanas e Sociais. Num país que ainda torce o nariz para o pensamento crítico, isso é quase revolucionário. E mais que isso: é um feito histórico que precisa ser celebrado com todas as letras e com todos os dados. No caso da UFS, as Ciências Humanas e Sociais não apenas concentram o maior número de programas de pós-graduação — são também as áreas que mais avançaram na última Avaliação Quadrienal da CAPES. São elas que mais formam mestres e doutores, que mais entregam egressos à sociedade sergipana e, contraditoriamente, são também as que menos recebem recursos. Subfinanciadas cronicamente pelas agências de fomento, com infraestrutura precária e laboratórios que, muitas vezes, cabem em uma estante, essas áreas têm feito ciência com criatividade, rigor e coragem.
O reconhecimento, portanto, não caiu do céu. É o resultado de uma política científica com bússola e mapa: leitura criteriosa dos documentos de área, inserção consciente nos critérios de avaliação, fortalecimento dos programas de base, como PIBIC e PIBITI, formação em integridade científica, oficinas práticas para elaboração de projetos no CNPq e na FINEP ocorrendo regularmente, e uma internacionalização que foi muito além dos carimbos no aporte — firmou cooperações reais, com impacto. Tudo isso se deu em meio a severos cortes orçamentários. Ainda assim, resistimos. E, resistentes que fomos, avançamos. Porque esse resultado é muito mais do que uma planilha com nomes e códigos publicada pelo CNPq. É um sinal verde para a entrada de nossos pesquisadores no núcleo duro da ciência nacional. Muitos deles, aliás, figuram pela primeira vez nessa seleta lista — e isso muda tudo. am a ter o a editais mais competitivos, ampliam sua capacidade de captação de recursos e, o mais importante, tornam-se vetores de renovação para seus grupos, programas e laboratórios. Por isso, é fundamental que se entenda que cada uma dessas bolsas não é só um reconhecimento individual — é também uma alavanca coletiva. A bolsa de produtividade, por sua própria natureza, reforça a infraestrutura, atrai novos talentos, oxigena redes e renova o fôlego de quem insiste em fazer ciência mesmo com cortes orçamentários, apagões de insumos e o peso cotidiano da subvalorização.
Coincidência? Talvez. Mas não custa lembrar: a UFS obteve nota 5 — a máxima — na última avaliação institucional realizada pelo MEC. E esse novo recorde de bolsas de produtividade do CNPq, o maior da nossa história, soma-se a esse marco. Não foi mágica. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, nos últimos oito anos, dona de uma equipe docente e técnica qualificada e incansável, buscou fazer o dever de casa: planejamos, capacitamos, integramos áreas, otimizamos recursos e, sobretudo, acreditamos na ciência feita em Sergipe. O resultado está aí — e não veio fácil. Veio com suor, estratégia e compromisso institucional.
Cabe agora manter o rumo, com coragem e responsabilidade. Independentemente dos obstáculos, não se pode retroceder — isso seria desperdício. Porque cada conquista dessa não é apenas da UFS — é de Sergipe, e do Brasil, que precisa, como nunca, de universidades fortes, de ciência vibrante e de políticas públicas que saibam distinguir gasto de investimento.
A UFS agradece. Sergipe também. E o Brasil, se quiser andar para frente, precisa seguir esse exemplo da universidade que, com o resultado obtido no edital de bolsas de produtividade, coloca a ciência do nosso estado em um novo patamar.
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]]>Ailton Silva dos Santos Mestre em História (PROHIS/UFS) Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) Vivemos em um mundo onde quatro gerações dividem o mesmo espaço de trabalho: os Baby Boomers, a Geração X, os Millenials e a Geração Z. Cada uma com suas manias, jeitos e expectativas. Essa mistura […]
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Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
Vivemos em um mundo onde quatro gerações dividem o mesmo espaço de trabalho: os Baby Boomers, a Geração X, os Millenials e a Geração Z. Cada uma com suas manias, jeitos e expectativas. Essa mistura promove certos conflitos, mas também pode ser uma oportunidade para a inovação e o crescimento interpessoal. De início, é preciso entender que cada geração foi moldada em um contexto diferente. Os Baby Boomers, por exemplo, viveram o pós-guerra e costumam valorizar a lealdade e o trabalho em equipe. Já a Geração X, mais independente, tem por característica buscar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Os Millenials, são os nativos digitais e querem flexibilidade e um propósito no trabalho que realizam. Já a Geração Z é super conectada, valoriza a diversidade e a comunicação direta. Tendo, em alguns casos, certo conflito com o modelo de trabalho CLT, o que faz com que as gerações anteriores tenham certos preconceitos para com os Z.
Toda essa diversidade de mentalidade e visão de mundo, no mesmo ambiente de trabalho, produz alguns choques não é mesmo? As expectativas de carreira são diferentes, os valores nem se falam, e os estilos de trabalho então, nem se comparam. Mas, dá para refletir e até resolver essa questão! Ao menos em certos pontos. Para isso, a comunicação é tudo e é preciso se adaptar comunicabilidade de cada geração. Ora, uns preferem a conversa cara a cara, outros querem por e-mail e tem ainda aqueles que só se entendem por mensagens trocadas por aplicativos de celular. Contudo, é preciso manter o respeito acima de tudo. Pois, cada geração tem seu valor e suas contribuições a oferecer. Nada de estereótipos, certo? Então, que tal pensarmos em um projeto de acompanhamento? Os mais experientes ensinam os novatos e os novatos mostram as novidades tecnológicas para aqueles que vieram antes deles.
Nesse cenário, modelos de trabalho híbridos ou remotos podem agradar a todos; a flexibilidade é a chave. Contudo, existem aquelas que não gostam da “liberdade” que o home office oferece e preferem a solidez de uma rotina bem definida. E, cá entre nós, este autor é um desses últimos.
Entrementes, é importante investir em ferramentas que facilitem a comunicação e a colaboração entre as gerações. Tomemos a tecnologia como aliada ao nosso trabalho e não como uma barreira imposta. Pois, algumas empresas já compreenderam que essa diversidade geracional é uma mina de ouro e, aquelas que investem seu tempo em combater os “males da nova geração” serão deixadas para trás ao fechar os olhos para o desenvolvimento e a inovação cultural; ninguém que ser a nova Kodak! Como exemplo de sucesso, temos a empresa SAP que criou programas pra as pessoas trocarem conhecimentos e trabalharem juntas. A Johnson & Johnson viu a produtividade aumentar e a rotatividade diminuir com programas inclusivos. E a Unilever turbinou a inovação e a satisfação dos clientes com equipes multigeracionais que são capazes de entender e atender os mais diversos tipos de público, falando o seu idioma a partir do chão onde pisam.
No meio desse turbilhão de ideias e técnicas que atravessam décadas, a Geração Z e a Geração Alfa também chegaram ao mercado de trabalho, sejam efetivos ou estagiários. Portanto, as empresas estão ou terão que se adaptar para cativar esses talentos, que buscam flexibilidade, propósito e tecnologia. E os profissionais, de todas as idades, vão ter que aprender a conviver e colaborar nesse ambiente cada vez mais plural. Portanto, de no fim das contas, o choque de gerações pode ser uma grande oportunidade para os profissionais e as empresas, sobretudo para aqueles que buscam construir uma carreira e não apenas pagar boletos. Basta ter respeito, comunicação e flexibilidade de ideias.
Para saber mais:
Choque geracional: entenda o impacto do ingresso da geração Z no mercado de trabalho, https://infonet-br.informativomineiro.com/educacao/carreira/noticia/2024/03/choque-geracional-entenda-o-impacto-do-ingresso-da-geracao-z-no-mercado-de-trabalho-cltx6t5r0003u019ijdcfqic8.html o em: 09 de abr. 2025.
Choque de gerações marca a chegada dos mais jovens ao mercado de trabalho – VEJA, https://infonet-br.informativomineiro.com/comportamento/choque-de-geracoes-marca-a-chegada-dos-mais-jovens-ao-mercado-de-trabalho o em: 09 de abr. 2025.
CHOQUE GERACIONAL NO MERCADO DE TRABALHO – RIC-S, https://ric.s.sp.gov.br/bitstream/123456789/27219/1/Choque%20geracional%20no%20Mercado%20de%20Trabalho%20Ana%20Paula%20 o em: 10 de abr. 2025.
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]]>Elayne Messias os Licenciada em História pela UFS. Doutora em Antropologia pela UFBA. Assessora do Ministro da Educação. A luta contra o feminicídio e o transfeminicídio é uma tarefa coletiva, urgente e contínua. Em tempos de intensas transformações sociais, é inissível que ainda convivamos com realidades tão cruéis como os recorrentes e, muitas […]
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]]>Elayne Messias os
Licenciada em História pela UFS. Doutora em Antropologia pela UFBA.
Assessora do Ministro da Educação.
A luta contra o feminicídio e o transfeminicídio é uma tarefa coletiva, urgente e contínua. Em tempos de intensas transformações sociais, é inissível que ainda convivamos com realidades tão cruéis como os recorrentes e, muitas vezes impunes, assassinatos de mulheres e pessoas trans pelo mundo afora. Não estamos falando apenas de números – embora os dados já sejam alarmantes por si só –, mas de vidas interrompidas, de histórias silenciadas, de famílias devastadas. Assim, a pergunta que devemos nos fazer é: o que estamos fazendo, como sociedade, para mudar essa realidade?
A resposta a, obrigatoriamente, pela educação. Ela não é apenas uma ferramenta de transmissão de conhecimento, mas sim um poderoso instrumento de transformação social. Afinal de contas, ao educar para a diversidade, o respeito e a igualdade, estamos plantando as sementes de uma sociedade menos violenta e mais justa.
Enquanto chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Educação e presidente do Comitê das Mulheres do MEC, reforço o nosso compromisso institucional com a construção de políticas públicas que enfrentem de forma direta e eficaz essas formas de violência de gênero. Não basta tratar o problema com discursos ou ações pontuais: é fundamental um esforço permanente, articulado e enraizado nos pilares da justiça social e dos direitos humanos.
O combate ao feminicídio e ao transfeminicídio deve começar já na escola, na formação de professores e professoras, nos espaços de acolhimento e segurança dentro das instituições de ensino. É preciso romper com o silêncio que historicamente encobre essas violências e construir ambientes onde todas as pessoas – independentemente de sua identidade de gênero – sejam respeitadas, ouvidas e protegidas.
Além disso, é essencial e estratégico garantir a participação efetiva das mulheres e das pessoas trans nas decisões que impactam suas vidas. A participação social é um direito, e essa participação deve ser incentivada e efetivada em todos os níveis de governo e na sociedade civil. Sem representatividade, não há democracia plena. E sem escuta, não há transformação real.
Por isso, como diz a canção, “vamos precisar de todo mundo”, pois a luta contra essas formas brutais de violência não pode ser de poucos. É uma tarefa coletiva que exige engajamento de toda a sociedade – do poder público, das instituições de ensino, da comunidade acadêmica, das famílias e, principalmente, de cada cidadão e cidadã. Todos temos um papel a cumprir na construção de um país onde o respeito à vida e à dignidade humana seja valor inegociável.
Por isso, reitero: a educação precisa ser tratada como prioridade absoluta nas políticas de enfrentamento à violência de gênero. Não podemos mais permitir que jovens cresçam em ambientes permeados pelo preconceito, pela intolerância e pela omissão. O futuro se constrói com conhecimento, empatia e compromisso. A educação continua a ser uma ferramenta poderosa para a transformação social, e nós, como educadores, educadoras e cidadãos, temos o dever de utilizá-la com responsabilidade.
Os últimos tempos assistiram ao fortalecimento de setores reacionários, ao aumento de manifestações políticas marcadamente misóginas e homofóbicas. Disfarçadas pela tal “busca da masculinidade”, seitas machistas aparecem em vários cantos do mundo. Isso precisa ser combatido. E só a educação pode fazer frente à barbárie. Que não nos falte coragem para seguir nessa luta. E que nossas ações diárias estejam à altura da sociedade que queremos, um mundo em que nenhuma vida seja perdida tão somente pela falta de respeito à diferença.
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]]>Maria Luiza Pérola Dantas Barros Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ) Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente E-mail: [email protected] Por volta das 22h30 de 1º de maio de 1945, era noticiada a morte de Hitler, interrompendo a programação habitual da rádio Hamburgo: “Do quartel-general, foi informado que nosso Führer, Adolf Hitler, lutando até […]
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Maria Luiza Pérola Dantas Barros
Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
E-mail: [email protected]
Por volta das 22h30 de 1º de maio de 1945, era noticiada a morte de Hitler, interrompendo a programação habitual da rádio Hamburgo: “Do quartel-general, foi informado que nosso Führer, Adolf Hitler, lutando até seu último suspiro contra o bolchevismo, morreu pela Alemanha nesta tarde”. Um anúncio coeso, porém, de tons gloriosos a corroborar com a imagem de alguém que teria lutado “até o último suspiro” naquele contexto de guerra. A partir desse anúncio, a Alemanha nazista veria, em poucos dias, a sua derrocada numa já conhecida narrativa sobre o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa, com a da rendição alemã naquele mesmo mês, fazendo com que o dia 08 de maio fosse oficialmente celebrado, ao longo dos anos, como o “Dia da Vitória”.
Antes mesmo daquele anúncio oficial, podemos dizer que a imprensa no mundo se perguntava qual seria o destino de Hitler, em meio a uma Berlim prestes a ser invadida pelas tropas aliadas. Fugir? Mas com que roupa? Era assim que periódicos brasileiros, como a Revista da Semana, já na edição de 10 de março de 1945, especulavam sobre o assunto.
Nessa matéria, longe de uma imagem gloriosa, a liderança nazista aparecia como o maior facínora da humanidade, para o qual não haveria refúgio. Considerando improvável o seu suicídio, e acentuando a sua covardia pessoal, levantava-se a possibilidade dele se disfarçar para fugir.
Entre os disfarces elencados, apareciam o de pintor, professor, carregador de malas e garçom, por exemplo. Tais disfarces, mesmo se acreditando em um outro destino para Hitler, serviam, segundo a revista, para demonstrar as habilidades “que pode atingir um perito em ‘maquillage’” (p.37), e mesmo que as feições dele fossem modificadas, afirmava-se que, por suas atitudes, ele seria reconhecido e castigado um dia.
Com a proximidade dos aliados a Berlim, os alemães eram convocados para lutar até a morte. Foi rápido o avanço das tropas aliadas, culminando no suicídio de Hitler, em 30 de abril de 1945, e na ocupação da cidade pelo Exército Vermelho e posterior rendição alemã. Para o historiador Richard Evans, o dia que marca o final da guerra na Europa não foi recebido como libertação pelos alemães, havendo uma inicial resistência interna, e, posteriormente, uma submissão pacífica aos aliados, em virtude: da desintegração e colapso do Partido Nazista; da morte dos possíveis líderes de resistência; do fim do fator lealdade com a morte de Hitler e da culpa em relação ao extermínio dos judeus (2016, p.846).
Diferentemente dos tons gloriosos contidos no anúncio oficial de sua morte, com o suicídio de Hitler, sua imagem se revelaria com melhores contornos para a história: não como um grande vulto em realizações, como os nazistas faziam questão de anunciar, mas como uma liderança responsável por mergulhar o mundo no pior conflito bélico do século XX. Em uma coisa a matéria veiculada na Revista da Semana acertou: os seus crimes perpetrados contra a humanidade seriam conhecidos e lembrados… mesmo 80 anos depois.
Para saber mais:
ALONSO, Juan Francisco. ‘Hitler estava destruído, seu rosto era uma máscara de medo e confusão’: como foram os últimos dias do líder nazista há 80 anos. BBC News de Londres, 29/04/2025. Disponível em: https://infonet-br.informativomineiro.com/portuguese/articles/cdxndl51w99o Último o em 30/04/2025, às 15:56
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]]>Ailton Silva dos Santos Mestre em História (PROHIS/UFS) Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) Publicado em 1994, Donkey Kong Country permite estabelecer possíveis relações com a percepção do imperialismo norte-americano durante aquele período. A narrativa do jogo norteia os Kongs, primatas antropomórficos que habitam a Ilha Donkey Kong, e o roubo […]
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]]>Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
Publicado em 1994, Donkey Kong Country permite estabelecer possíveis relações com a percepção do imperialismo norte-americano durante aquele período. A narrativa do jogo norteia os Kongs, primatas antropomórficos que habitam a Ilha Donkey Kong, e o roubo de seu estoque de bananas pelos Kremlings a mando do seu líder King K. Rool. Sendo crocodilos igualmente antropomórficos os Kremlins compõe uma força militar organizada, que tem por objetivo se apossar dos recursos de outras ilhas. Especula-se que suas motivações poderiam incluir a ambição pela posse da terra dos Kongs, não somente seus recursos, ou a intenção de enfraquecê-los através da privação de alimento. A ação de um grupo organizado que invade o território de outro para extrair recursos pode ser interpretada como análoga ao conceito de imperialismo.
O conceito de imperialismo abrange a expansão da influência política, econômica, cultural, mediática e militar das fronteiras do país colonizador. Essa expansão pode ocorrer através de conquista militar direta, proteção militar, diplomacia coerciva, tratados desiguais, apoio a fações preferenciais, mudança de regime, apoio econômico ou diplomático, ou ainda a penetração econômica através de empresas privadas. Contudo, é preciso reconhecer que a interpretação de narrativas ficcionais estão sujeitas a análises subjetivas do fato: um jogo eletrônico, feito para o público infantil, que se fundamenta em um plano de fundo para compor a sua estória.
Por sua vez, os Kongs são retratados como defensores e, em sua resistência contra os Kremlings, utilizam os recursos naturais disponíveis, como barris e cipós de árvores, e contam com a colaboração de alguns animais aliados. Seu estilo de vida intrinsecamente ligado ao ambiente natural e a luta contra os Kremlings, que empregam tecnologia e instalações industriais, pode ser interpretado como a defesa de uma população nativa contra um invasor tecnologicamente mais avançado.
Ora, a década de lançamento do jogo coincide com um período de ascensão dos Estados Unidos como potência global após o término da Guerra Fria (1947-1991). Período caracterizado por um sentimento de triunfo do capitalismo e pela expansão da globalização. Nesse contexto, a representação de um antagonista com poderio tecnológico invadindo uma população nativa menos desenvolvida pode ser vista como um reflexo da geopolítica da época. Entrementes, algumas interpretações de fãs estabelecem paralelos entre os Kremlings e potências coloniais europeias, sugerindo que as bananas representariam os recursos explorados na Ásia e África por exemplo. Outros dizem ainda que os antagonistas seriam uma alegoria para a União Soviética, devido à semelhança do nome com Kremlin, fortaleza russa que abriga o governo e centro histórico e cultural de Moscou.
Gregg Mayles (1971), um dos criadores do jogo, mencionou que a motivação inicial de King K. Rool era o roubo das bananas ou a ocupação da casa na árvore de Donkey Kong. Posteriormente, essa motivação evoluiu para um ódio pelas bananas e um desejo pela terra dos Kongs. Essa mudança pode indicar uma sutil intenção de abordar temas relacionados ao controle territorial e à aquisição de recursos, elementos pertinentes ao conceito de imperialismo.
Todavia, embora Donkey Kong Country não tenha sido concebido explicitamente como uma crítica ao imperialismo norte-americano, sua narrativa, a dinâmica entre os personagens e o contexto de seu lançamento possibilitam essa interpretação a partir dos elementos representados. O jogo pode ser compreendido como uma alegoria simplificada das relações de poder, do controle de recursos e da resistência a forças invasoras, temas que se alinham com a noção mais ampla de imperialismo.
Para saber mais:
ALBUQUERQUE, Afonso. Imperialismo midiático, intelectual e cultural hoje. https://hms.mediastudies.press/pub/am-de-albuquerque/release/2 o em: 04 de abr. 2025.
[Donkey Kong Country] The Kremlings used to have an empire, until part of it was taken over by the Kongs. https://www.reddit.com/r/FanTheories/comments/gfjznn/donkey_kong_country_the_kremlings_used_to_have_an/?rdt=49000 o em: 02 de abr. 2025.
The Donkey Kong Country 25th Anniversary Interview Documentary. https://hms.mediastudies.press/pub/am-de-albuquerque/release/2 o em: 02 de abr. 2025.
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]]>Ailton Silva dos Santos Mestre em História (PROHIS/UFS) Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) É verdade que vivemos em um sociedade dinâmica e apressada, com vídeos cada vez mais curtos em um feed vertical infinito, notificações se avolumando e áudios acelerados, e nesse ritmo fica difícil competir com as redes […]
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]]>Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
É verdade que vivemos em um sociedade dinâmica e apressada, com vídeos cada vez mais curtos em um feed vertical infinito, notificações se avolumando e áudios acelerados, e nesse ritmo fica difícil competir com as redes sociais e seus conteúdos viciantes. Mas, acredite, ainda tem gente que valoriza uma boa leitura, e a prova disso é o Clube de Leitura Sementes do Amanhã, que nasceu no interior de Sergipe.
Lagarto, a cidade onde o clube floresceu, é um berço de grandes nomes da literatura brasileira, foi lá que nasceram escritores como Sílvio Romero (1851 – 1914), crítico literário e folclorista, Laudelino Freire (1873 – 1937), filólogo e lexicógrafo, e Ranulpho Prata (1896 – 1942), romancista e contista, essa rica tradição literária certamente influenciou o surgimento de leitores, escritores e do Clube.
Tudo começou em setembro de 2019, no Colégio Nossa Senhora da Piedade (CNSP), quando alguns professores perceberam que os alunos, com idades entre 13 e 14 anos, tinham dificuldade em interpretar textos. A ideia inicial era simples: ler e discutir clássicos da literatura universal, mas logo o clube percebeu a importância de valorizar os autores locais e a cultura da região. Os integrantes se empolgaram bastante e em pouco tempo estavam lendo livros inteiros e promovendo debates acalorados e, em dezembro de 2019, aconteceu o primeiro encontro oficial, foi então que os alunos e entusiastas se uniram de vez.
A pandemia chegou e as aulas foram suspensas, mas o clube não desanimou, as reuniões aram para o online, e eles aproveitaram para criar um Instagram e um site, onde podiam compartilhar suas paixões e desenvolver outras habilidades, como a escrita. Com a volta das aulas presenciais, o Sementes do Amanhã ganhou ainda mais força e começaram a se reunir em lugares diferentes, como sorveterias e praças, e participaram de eventos literários importantes, como a Primeira Bienal do Livro de Lagarto (2022), o Festival do Livro de Lagarto (2023) e a VI Bienal do Livro de Itabaiana (2023).
Em 12 de abril de 2025, o clube organizou um evento emocionante em homenagem à professora Aglaé Dávila Fontes, intitulado “A Menina Tangedora de Sonhos”, inspirado no livro O Menino Tangedor de Sonhos (2001), contou com esquetes e uma palestra da professora, e marcou o batismo do grupo de teatro Tangedores de Sonhos, que nasceu dentro do clube e foi um momento de grande emoção para todos ali presentes, em particular para a professora homenageada.
Aglaé Dávila Fontes é uma figura ilustre da cultura sergipana, professora, escritora e atuando na presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ela dedicou sua vida à promoção da literatura, do teatro e da cultura em suas mais diversas formas, com enfoque no folclore e na cultura popular, sua paixão e conhecimento inspiraram gerações de jovens, e sua influência foi especial para o Sementes do Amanhã que, inclusive, havia visitado o Instituto em 2024, onde foram recepcionados pela professora, e puderam aprender mais sobre a literatura de Sergipe e conhecer aquele espaço de saber.
O Sementes do Amanhã mostrou que a leitura ainda tem seu espaço, com jovens engajados em ler e discutir cultura, provando que é possível formar uma comunidade de jovens apaixonados por livros, eles são um exemplo não só para Lagarto, mas para todo o país.
Para saber mais:
Site: https://www.clubesementesdoamanha.com/o-clube
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]]>Lara Lima Resende Mestranda em História Global (PPGH/UFSC) O final da 2ª Guerra Mundial (1945) inaugurou o cenário internacional ao desenhar, e ratificar, os Estados Unidos como potência mundial ao abandonar seu papel isolacionista para o reforço político, econômico, militar e diplomático nas suas relações internacionais. Desta forma, sua política externa se centrou em […]
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]]>Lara Lima Resende
Mestranda em História Global (PPGH/UFSC)
O final da 2ª Guerra Mundial (1945) inaugurou o cenário internacional ao desenhar, e ratificar, os Estados Unidos como potência mundial ao abandonar seu papel isolacionista para o reforço político, econômico, militar e diplomático nas suas relações internacionais. Desta forma, sua política externa se centrou em levar o “progresso” às regiões subdesenvolvidas, dentre elas a América Latina, Ásia e África, para fins de paz, prosperidades e valores a partir de auxílio técnico e financeiro. Foi um meio, portanto, de manter sua hegemonia à promoção do desenvolvimento nessas regiões.
No caso latino-americano, o auxílio estrangeiro, vinculado à política de Washington, reforçou o anticomunismo e a promoção da segurança nacional, desenvolvimento econômico e dentre outros aspectos. Neste ensejo, o Brasil foi um dos alvos que esteve inserido nos pactos de cooperação mútua de segurança, como o caso do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) (1947) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) (1948), como também em auxílios técnicos, como foi o caso do Ponto IV (1947) e da Aliança para o Progresso (1961) que, em análise geral, baseados nas configurações dos seus respectivos tempos, tinham como objetivo aplicar programas técnicos e injetar capital estrangeiro como meio de desviar a ação comunista no país.
O receio comunista ganhou forças quando a Revolução Cubana eclodiu, em 1959, e reorganizou o jogo diplomático dos Estados Unidos na América Latina, mas, especificamente, no Brasil. As relações diplomáticas entre as duas nações ganharam esforços sob o intuito de intervir em qualquer iniciativa subversiva possível no país, contudo, essas ações tinham como papel fundamental tanto com os diplomatas e consulares norte-americanos em exercício, quanto às elites brasileiras de forma que suas opiniões se moldavam a partir dos interesses em comum dos simpatizantes em detrimento dos objetivos estadunidenses.
A análise documental, nesse sentido, permite averiguar os assuntos internos quanto à política e economia brasileira, mas também às atividades gerais que ocorriam no país. Esses documentos, de caráter confidencial, situados no projeto “Openning the Archives”, em parceria com a UFSC, UEM, a “Brown University” e o “National Archives”, permitem examinar como o corpo diplomático dos Estados Unidos agiu e teve notória atividade nos assuntos internos brasileiros. Não somente em questões burocráticas, mas em termos de investigar o cotidiano e possíveis atividades irregulares que afetassem as relações diplomáticas e se generalizassem causando danos à ordem mundial estabelecida.
O cônsul americano, Edmund A. da Silveira, em exercício em Belo Horizonte, enviou um telegrama ao Departamento de Estado de Washington, em 18 de novembro de 1960, alegando haver demonstrações pró-Fidel Castro entre os estudantes desde setembro do mesmo ano. Seus princípios começaram no evento “Seminário sobre a Revolução Cubana”, promovido pelos alunos da UFMG, que teve como os temas abordados: a política revolucionária, desenvolvimento econômico, problemas educacionais e domésticos, além de literatura. Um dos principais palestrantes foi o estudante Arnaldo Mouthé que, a convite, fez uma viagem a Cuba para adentrar sobre os assuntos e dinâmicas da ilha. Em suas considerações, Mouthé comentou de a necessidade do povo latino-americano apoiar a Revolução Cubana, visto que ela personificava a causa comum da região.
Mais tarde, em 5 de dezembro de 1960, o mesmo cônsul emitiu uma lista dos estudantes envolvidos nessas sucessivas manifestações pró-Castro, mas, que, dentre eles, também havia advogados envolvidos na defesa de Cuba. John Moors Cabot, atuante na Embaixada dos EUA no Brasil, analisou, em 28 de abril de 1961, como essas manifestações se difundiam (reuniões públicas, marchas, manifestações, mensagens para a Embaixada de Cuba) afirmando que elas eram organizadas por esquerdistas ultranacionalistas, trabalhadores vinculados a esta esquerda, tendo atuação, principalmente, em Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Belém.
Este exposto exprime como o corpo diplomático estadunidense esteve infiltrado na sociedade brasileira e, para além dos assuntos burocráticos, tinham noção do que se ava no cotidiano brasileiro, em geral, claramente em fusão com a alta sociedade que convergiam politicamente e ideologicamente com os EUA e, sobretudo, alimentavam a necessidade de o Brasil alicerçar seu jogo diplomático com Washington, tendo em vista o contexto macro, a Guerra Fria, e micro, a Guerra Fria Latino-Americana.
A abertura dos arquivos e documentos secretos estadunidenses permitem que, gradativamente, análises e pesquisas sobre as relações Brasil-Estados sejam aprofundadas. Recentemente, a Casa Branca tornou público o o de 2.343 documentos confidenciais que, dentre eles, contêm arquivos da CIA sobre a Guerra Fria, em geral, as configurações do embate entre Estados Unidos-Cuba e o monitoramento na América Latina. Todos disponibilizados no Arquivo Nacional dos EUA e auxiliam na pesquisa do funcionamento da política externa estadunidense na América Latina.
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]]>Caroline Moema Dantas Santos Mestra em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/ UFRJ) Integrante do Grupo de Estudo do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) E-mail: [email protected] Um dos primeiros pontos para compreender a escrita de Graciliano Ramos é perceber o quanto suas obras apresentam a […]
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]]>Caroline Moema Dantas Santos
Mestra em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/ UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudo do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: [email protected]
Um dos primeiros pontos para compreender a escrita de Graciliano Ramos é perceber o quanto suas obras apresentam a regionalidade do Nordeste brasileiro, e assim podemos afirmar que sua escrita contribui para a construção da literatura regionalista do Brasil, mesmo que esta expresse diferentes vertentes de interpretações. As obras de Graciliano Ramos foram produzidas durante a segunda fase do Modernismo, o que é importante para entender que se trata de uma literatura que reconstitui as questões políticas e sociais em formato de prosa. É interessante ressaltar que nessa fase, as obras não só de Graciliano Ramos, mas de outros romancistas brasileiros também são utilizadas para descobrir e pensar uma região.
É característica dos romances regionalistas o resgate das narrativas populares, a memória das narrativas do homem moderno, pois eles tinham como proposta garantir o não esquecimento do espaço regional, sua paisagem, tipos humanos relações sociais, símbolos e imagens que pontilham o território marcado pelo poder. Isso é notável em obras de Graciliano Ramos, como “Vidas Secas”, “São Bernardo” e “Angústia”. Verdadeiros ícones da carreira do autor, essas obras abordam com certa frequência temas como seca e latifúndio monocultor, que geralmente estão relacionados ao Nordeste brasileiro de 1930.
Marilene Felinto diz que ao analisar a escrita de Graciliano Ramos, é possível observar que cada livro escrito por este autor é diferente um do outro, porém cada um é parte de uma unidade. Ainda segundo Marilene, outro fator marcante na escrita de Graciliano é a brevidade dos períodos que busca o necessário e evidencia o desencanto e o humor cortante do autor, que vai do tosco ao elementar, como verificamos na obra “Vidas Secas”.
Para além das características pessoais de Graciliano, suas personagens narram uma história que traduz a miséria e a marginalização a que estava relegado o povo da região que ficou conhecida como Nordeste durante o primeiro período republicano no Brasil.
A escrita de Graciliano Ramos é enxuta, sem muitos adjetivos ou qualquer palavra que alongue demais suas descrições e narrações. As personagens são figuras marcantes do contexto social brasileiro da década de 1930, o que vem evidenciar mais uma vez o perfil da escrita desse autor, baseada na construção de uma cultura regional.
Tendo em vista a presença do regionalismo nas obras de Graciliano Ramos, podemos compreendê-lo como um elemento característico da nacionalidade brasileira, desde seus primórdios. As regiões, no Brasil, definiram-se, então, por histórias diferentes com heróis e tradições convergentes. As obras de Graciliano apresentam sua ‘mundivivência’, ou seja, Graciliano escrevia sobre aquilo que vivia e como entendia o mundo ao seu redor.
Podemos mesmo vislumbrar um caráter autobiográfico na sua obra, apesar dessa visão parecer restrita e limitada à subjetividade, o que reduz o mundo à dimensão particular do autor. Contudo quando a obra é desvendada pelo leitor, a subjetividade transforma-se em expectativa porque além do uso de suas experiências, Graciliano Ramos também enriquece sua literatura com fatos históricos que possibilitam ao leitor novas perspectivas.
Graciliano Ramos foi um autor consagrado nacionalmente por seus estudos regionalistas e por sua contribuição à produção literária, que apresenta diversos elementos da cultura regional nordestina, nos seus aspectos políticos, econômicos e sociais. Ele aborda também as expressões linguísticas que efetivamente representam a realidade nordestina, ou seja, a sua própria experiência de vida. De forma consciente, o autor mostra a força fundadora da linguagem, de sua capacidade de instauração de uma nova forma de ver e dizer a sociedade e o espaço regional.
Para saber mais:
ABEL, Carlos Alberto dos Santos. Graciliano Ramos: cidadão e artista. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A invenção do nordeste: e outras artes. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
FELINTO, Marilene. Graciliano Ramos: outros heróis. São Paul: Editora Brasiliense, 1983.
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]]>Ailton Silva dos Santos Mestre em História (PROHIS/UFS) Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) E-mail: [email protected] O imaginário é um campo frutífero para reflexões e investigações nas ciências humanas, com diversos trabalhos abordando sua definição e indefinição conceitual. O debate sobre tal assunto, além de permear a história cultural e social, […]
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]]>Ailton Silva dos Santos
Mestre em História (PROHIS/UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: [email protected]
O imaginário é um campo frutífero para reflexões e investigações nas ciências humanas, com diversos trabalhos abordando sua definição e indefinição conceitual. O debate sobre tal assunto, além de permear a história cultural e social, integra conceitos de estudos religiosos, literatura e arte, o que possibilita problematizar o teatro como uma representação da vida. Pois, o teatro grego clássico com seus mitos entrelaçados ao cotidiano, evidencia sua extensão simbólica além das memórias individuais, compondo representações.
O imaginário se torna real ao ser discursivamente significado como objeto das ciências sociais e humanas num contexto histórico, inserido no âmbito da longa duração, que compõe o tempo da formação das mentalidades, abarcando cenários materiais e imateriais que constroem o fenômeno histórico. Emergindo no plano cognitivo, o imaginário, por vezes, é interpretado como fantasia ou ilusão simbolista de pouca importância para o real. Mas, sem imaginação não há arte ou cultura, pois teorias e metodologias são frutos também dela. Com o teatro grego, observamos igualmente imaginário e realidade, pois concepções artísticas comungam com suas crenças, moldando parte da realidade.
Por sua vez, o alcance universal do teatro exerce influência, levando a pensar sobre símbolos que chegaram até nós, como definido por Gilbert Durand, dado que a espécie humana possui um patrimônio imaginário.
O teatro, como procissões em culto a Dionísio, desempenhou múltiplas funções, não só religiosas, mas também estéticas e políticas. Atribui-se a Téspis a invenção do ator, mas a arte de atuar é mais antiga e se confunde com a natureza do próprio homem. A mimese, como chamou Aristóteles, é a capacidade de dar vida a outra persona para compreender a natureza e seu meio. Entrementes, a dramaturgia ateniense tinha uma faceta competitiva, com autores e diretores disputando com suas peças, sendo um evento anual com espírito festivo, quase uma orgia, aonde as peças iam em cena uma vez e não repetidamente.
O teatro ganhou os palcos como manifestação do cotidiano mitológico, com deuses e criaturas sobrenaturais, com música e coro, onde os intérpretes usavam máscaras que representavam sensações e estados de espírito, tristes para tragédia e sorridentes para comédia. Por sua vez, a vida cênica era proibida às mulheres.
Destacaram-se autores como Ésquilo, cujas obras mostram a tragédia dos homens e dos deuses. Eurípedes, e a plena pintura das paixões humanas que, para Aristóteles, era o mais trágico dada a maior sensibilidade da verdade. E, mais dramaturgo que poeta, Sófocles tinha seu foco voltado para o palco. Com um atraso de cinquenta anos em relação à tragédia, a comédia ganhou os palcos, com conteúdo voltado à crítica política. A tragédia eleva quem sofre, sublimando o crime, transformando o personagem em mito ou herói, e a comédia é banalizante, trazendo a consolação para os problemas da vida.
Podemos usar o estudo sobre o teatro, não somente o grego, como meio para debater sobre manifestações e o desenvolvimento do imaginário na sociedade, focando na realização desse teatro e seus elementos constituintes. Pois, o imaginário não é somente uma maquiagem para realidade, ele é tão real quanto à realidade e constitui como um dos mais importantes mecanismos de produção e organização da sociedade. E pode ser compreendido como uma das respostas que a coletividade forneceu à seus conflitos, violências e divisões. Um meio de expressar desejos, aspirações e valores.
Agindo como força inerente à vida coletiva, influenciado por essa mesma vida cotidiana, carrega formas de poder através de um vasto sistema simbólico, o imaginário compõe uma estrutura que ajuda a estruturar a sociedade em movimento. Nesse ínterim, o teatro, em seu surgimento clássico e além dele, traz a representação de aspectos do imaginário coletivo. É manifestado pelos sentidos, as impressões e as emoções, e podemos penetrar em ambos os conceitos, o imaginário e o real, que não são concepções adversas e sim complementares. O teatro, ainda hoje, povoa o mundo com símbolos, objetos, imagens e crenças que integram a cultura, este denso sistema simbólico com o qual o homem norteia seu comportamento. Não é uma disciplina, mas um elo reflexivo entre saberes.
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]]>Priscila Antônia dos Santos Mestranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ) Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) Em algum dia dos anos 1940, a cidade de Aracaju enfrentava mais uma típica noite sem energia elétrica. O senhor Lourival, que residia na antiga rua Vitória (atual Carlos Burlamarqui), recebeu o chamado de um amigo […]
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]]>Priscila Antônia dos Santos
Mestranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
Em algum dia dos anos 1940, a cidade de Aracaju enfrentava mais uma típica noite sem energia elétrica. O senhor Lourival, que residia na antiga rua Vitória (atual Carlos Burlamarqui), recebeu o chamado de um amigo que trabalhava no aeroporto para ajudá-lo a resolver o seguinte problema: um avião estava previsto para pousar no Aeroporto de Aracaju naquela noite e não havia iluminação na pista de pouso e decolagem. Seu Lourival era um dos poucos moradores que possuía algo que poderia ajudar a solucionar o contratempo. De Aracaju, era um dos poucos moradores que possuía um carro, sua missão seria iluminar a pista para que o piloto de avião pudesse enxergá-la.
Na rua Vitória onde morava, por exemplo, era o único que possuía um automóvel, o que despertava a curiosidade da vizinhança. O veículo provavelmente era um charmoso e clássico Ford Modelo T. No início do século XX, a produção em massa do Modelo T foi responsável pela popularização do carro no mundo. Confeccionado sempre na cor preta, ficou mundialmente conhecido pelo slogan “qualquer cor, desde que seja preto”. O design monocromático fazia parte da estratégia de barateamento do produto. No Brasil, a Ford inaugurou sua primeira montadora em 1919, em São Paulo.
Apesar de popular, a aquisição de um automóvel era uma realidade apenas para brasileiros abastados. A posse de um Modelo T era sinal de riqueza e poder, especialmente numa cidade provinciana como a Aracaju dos anos 1940. Nas ruas da capital que, à época, praticamente se resumia à região do Centro, seu Lourival desfilava com o seu charmoso Modelo T, provavelmente disputando o espaço com pedestres, carroças, carros de boi, charretes, cavalos e bondes.
Na fatídica noite em que foi requisitado, seu Lourival prontamente se dirigiu ao aeroporto, posicionou o veículo com os faróis ligados e saiu do carro. Distante com alguns companheiros aguardavam ansiosamente a chegada do avião e torciam por um pouso seguro. No céu avistaram a aeronave que aos poucos iniciava o pouso, já de frente para a pista, se preparando para tocar o solo a sensação de que tudo estava indo bem foi cortada por um barulho ensurdecedor! Antes de tocar o solo, as rodas da aeronave acertaram o carro! O xodó do seu Lourival estava destruído.
Essa história foi contada por Antônio Roriz (91 anos) que a época era criança e residia na mesma rua que o senhor Lourival. Pensar nessa Aracaju do início do século XX, por vezes, é guiada por um saudosismo da moderna construção do Tabuleiro de Pirro, cartesianamente organizada. Mas histórias como essas nos convidam a conhecer uma Aracaju mais imperfeita, revelando as soluções mirabolantes que os moradores precisavam improvisar para vencer as dificuldades diárias.
Quanto ao seu Lourival, que azar!
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