Para Catto, com amor! Em 2021, eu entrevistei a cantora Filipe Catto e esse conteúdo ficou perdido até agora. Foi um papo sobre ela, sobre a música dela, sobre o poder da arte trans entre outros assuntos. No último dia 26 de setembro, a Catto completou idade nova e para celebrar lançou o novo disco, […] 2e4u4m
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]]>Em 2021, eu entrevistei a cantora Filipe Catto e esse conteúdo ficou perdido até agora. Foi um papo sobre ela, sobre a música dela, sobre o poder da arte trans entre outros assuntos. No último dia 26 de setembro, a Catto completou idade nova e para celebrar lançou o novo disco, em homenagem à Gal Costa (que também completaria idade nova no dia 26 de setembro). O poder do novo trabalho, intitulado “Belezas são coisas acesas por dentro” (presente em todas as plataformas de música) fez reacender em mim a busca por nossa entrevista nunca publicada. Lembrando que esta conversa aconteceu ainda no período da pandemia, onde estávamos tentando entender o que tinha acontecido com o mundo ao nosso redor.
Jaime Neto: O seu nome tem criado uma relação com a representação LGBTQIAPN+, e com uma geração de jovens que estão procurando entender melhor seus próprios sentimentos. Quando você teve consciência de que era essa voz (ou estava se tornando essa voz)? Quando deu esse start e mudou-se a figura daquele cara comercial do início, que ava na propaganda da Globo, para esse vulcão de sentimentos e representatividade, que você é hoje?
Filipe Catto: Eu sempre estive dentro do movimento, sempre fui uma pessoa abertamente LGBTQIAPN+ e minha vivência neste lugar foi a base pra eu compor e criar meu trabalho desde adolescente. Minhas questões internas vinham sempre de encontro com esse desconforto na sociedade, na incompreensão dos afetos que restavam pra pessoas como eu. O que mudou foi o conhecimento, a troca, os tempos. O Brasil é um País lgbtfóbico, e quando comecei em 2009 era mais ainda. Não tínhamos representatividade alguma fora da caricatura e eu surgi neste contexto onde o showbizz era muito conservador e o debate sobre os direitos das minorias identitárias ainda estava longe da pauta principal da sociedade. Ali eu ainda não tinha consciência de quem eu me tornaria, não me permitia ser uma pessoa trans, era um tabu muito grande. A gente faz isso aos poucos, é um processo. Tinha 20 anos, era uma criança assustada, sozinha em São Paulo tentando me virar como dava. A carreira na música deu certo, eu tive a oportunidade nestes anos de expandir minha mente e trocar com pessoas como eu e aí a aceitação se tornou natural. Esse processo está sendo mundo fluido, eu agradeço por viver esta transformação tão maravilhosa, tão visceral através da arte. No começo da década, as únicas bixas (sic) da nova mpb era eu, o Pethit, o Leo Cavalcantti. Aí veio Johnny, As Baías, Liniker e todo esse movimento maravilhoso da cena LGBTQIAPN+ na música que é uma verdadeira revolução.
Jaime Neto: Vi uma live sua recente em que você fala que os discursos políticos precisam ser intensificados e amplificados, durante shows e manifestações artísticas. Para você, de agora em diante, arte e política vai sempre andar juntos? Não tem medo de cair na malha da militância ou ser taxada de militante e não mais artistas, como separar isso?
Filipe Catto: a arte é o progresso. A arte está sempre do lado da mudança pro bem, e isso é absolutamente político. Vivemos em um século em que o ser humano está pedindo socorro diante da exploração do trabalho, da desigualdade social, da concentração de riqueza, da intolerância de gênero. É um tempo de embate de ideias, estamos recém no começo disso. Queremos um mundo diferente, inclusivo, que respeite o ser humano e isso será o trabalho de uma vida pra cada uma de nós. Sim, meu trabalho é político porque tudo que vem de mim é. Eu sou uma pessoa trans não-binária no Brasil, não tem como eu não pensar politicamente no coletivo. Minha vida depende disso. Sou uma artivista, estarei sempre neste lugar.
Jaime Neto: Sabemos que a bandeira da luta LGBTQIAPN+ é imensa, tecida por várias dores, tragédias e alegrias. Como você seleciona o que seguir para ser essa grande referência pra tantas pessoas LGBTQIAPN+ também? O que tem formado e informado a sua cabeça nos últimos tempos?
Filipe Catto: eu não me preocupo nada com isso de ser uma representatividade. Eu estou mais cascuda, já vivi muitas coisas dentro do debate, minha carne tá ali. Tem muita gente incrível que estuda a fundo toda essa questão de forma mais acadêmica e eu estou aqui pra ouvi-las e me expandir. Quando eu falo é a partir do ponto de vista de quem está vivendo esse processo na carne, e tento contribuir com meu olhar pessoal com toda a sinceridade e abertura pra ouvir e engrandecer minha experiência no debate. Estamos em um período de mudanças. A ideia do que é gênero, sexualidade e política hoje vai se transformar radicalmente nos próximos anos. Não quero me apegar a nada pessoalmente, estou mais na onda de internalizar e descobrir qual a minha verdade dentro disso tudo, o que tá ali que é imutável, constante, que possa me dar um chão neste momento tão conturbado. Então me alimento de poesia, vejo filmes, escrevo muito. Isso me faz ter um ponto de vista mais realista sobre o que eu vivo, e assim eu posso contribuir da minha maneira, na espontaneidade. A gente luta pela liberdade das pessoas que não querem se enquadrar, que querem inventar uma nova coisa que ainda não existe e isso exige espaço pra experimentar.
Jaime Neto: você enxerga o cd CATTO como um divisor em sua carreira? Este trabalho vai definir o rumo de seu próximo trabalho? Eu vi uma divisão intensa entre o CATTO e os trabalhos ados!
Filipe Catto: eu acho que CATTO foi o primeiro disco que eu pude fazer com processo, com tempo, com uma imersão mais profunda no universo simbólico. Antes meus discos eram feitos de uma maneira mais pontual por todas as demandas dos músicos e produtores. Neste trabalho eu mergulhei fundo com o Felipe Puperi (produtor) e a gente teve uma vivência de muitos meses trabalhando no disco. Esse é um processo que eu levei pra mim em todos os outros projetos desde então. Eu gosto de trabalhar com tempo nos meus discos pessoais. É uma coisa que eu faço pro meu espírito, então não gosto de pôr prazos e metas na criação. A arte tem seu tempo, e é preciso ouvir o que cada trabalho tá querendo dizer. Os próximos discos serão sempre um mistério e uma surpresa, eles são como a vida.
Jaime Neto: A pandemia tirou de todos nós coisas boas e ruins. O que o isolamento trouxe de bom pra você? E o que você notou de não tão legal emergir em sua cabeça, e sentimentos, por conta daquela situação problemática?
Filipe Catto: foi um processo de crescimento muito grande tudo isso, muito difícil istrar toda a insegurança e o medo que vieram dessa proximidade com a morte. Eu perdi pessoas muito próximas neste período e tive toda uma jornada de luto durante a pandemia. Um luto que era pelos amigos, mas, também pela vida que a gente estava deixando pra trás. Eu acho tudo absolutamente trágico, horrendo e exatamente por isso pude reconhecer também a grandeza das atitudes de solidariedade e de respeito que apareceram. O que restou foi o empoderamento pessoal e profissional, depois de um ano e meio de restrições. Sinto que amadureci, que me tornei adulta finalmente, que sou forte pra enfrentar o mundo fazendo o que acredito e isso é muito poderoso. Eu consegui finalmente reconhecer um caminho diferente pra mim depois que aquele velho caminho desabou e renascer como uma Fênix na companhia do público, nas lives e nos projetos especiais, que trouxeram também uma linguagem que eu amo e que sempre tinha sonhado em desenvolver. Então, claro que tem muitos ganhos, a vida quer que a gente cresça e evolua. Não tem muito pra onde correr.
Jaime Neto: Qual a última coisa, pessoa, situação que fez você chorar?
Filipe Catto: eu chorei assistindo à série VENENO (exibida na HBO Max). Foi muito forte, muito emocionante. E dei uma chorada quando tomei a primeira dose da vacina. Eu dei uma endurecida na pandemia, tive de criar uma casca pra não sucumbir na maré de ódio, desinformação, mentiras e mortes neste País. Geralmente eu choro com mais facilidade, mas o Brasil me obriga a ser uma garota durona. Ainda estou no campo de batalha. Um dia quando tudo ar eu sei que vou me atirar no chão e chorar de ódio, revolta, tristeza pelo que ou, mas por enquanto preciso me manter firme e inabalável pra não dar ao inimigo o gostinho.
Jaime Neto: O que é o amor pra você? Você se sente amada hoje em dia ou tem dias que parece que ninguém te ama?
Filipe Catto: o amor pra mim é algo da natureza, de dentro de mim e de tudo que existe. É um elemento como o ar, ele faz parte de tudo. Eu não quero mais ser amada por ninguém da forma como eu precisava há alguns anos. Já caí em muita cilada por causa disso. Não quero confundir o amor com o produto amor que é vendido pela sociedade patriarcal. Isso é puro veneno. O amor que me interessa é o que vem de dentro, o amor que a gente se permite dar. O amor que a gente sente pela vida, pelo nosso corpo, pela beleza do mundo. Esse é o amor que eu posso desejar porque ele já está em mim. E assim eu posso trocar esse amor com quem está na mesma sintonia de vida que eu, que vibra nos mesmos valores que eu. Uma relação é construída de amor, de tesão e de valores compartilhados.
Jaime Neto: Como lida com as inseguranças nessa sociedade do amor fluido que permeia tudo hoje em dia? O fluido é o novo real?
Filipe Catto: eu acho que cada relação é um universo. Eu gosto de ter relações profundas e com liberdade. Preciso do meu espaço, do meu silêncio. Meu universo interior é minha maior prioridade sempre. Acho que temos de entender que somos seres humanos em processo em primeiro lugar, antes de qualquer idealização. E cada um carrega sua vida consigo, não existe como devassar essa barreira. As pessoas precisam viver o que for delas e quem sou eu pra questionar isso? Não sei se o fluido é o novo real porque existem milhares de combinações possíveis. É de pessoa pra pessoa. O que não dá mais é pra gente ignorar a realidade e sofrer por causa de ideias medievais de relação que são artificiais, criadas pelo patriarcado e pela igreja pra dominar o feminino até hoje. Se for pra sofrer, que seja por algum dilema que vá acrescentar na nossa noção de liberdade e expansão pessoal, e não pra corresponder ao ideal romântico da cultura, que é uma farsa total.
Jaime Neto: Se você tivesse a oportunidade de fazer uma ligação sem se identificar pro Bolsonaro, o que você diria a ele?
Filipe Catto: não diria nada, porque ele não merece ouvir o som da minha voz divina naquela orelha nojenta dele. Espero que pague por seus crimes contra a humanidade junto de toda burguesia nojenta deste País, que jogou a sociedade brasileira nas mãos de um assassino pra destruir o Brasil e concentrar ainda mais renda do que já concentravam. Não existe ele sozinho. É uma cadeia de horrores. Que queimem no inferno depois da morte e que sejam humilhados e punidos em vida. É isso que nazistas merecem.
Fim.
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]]>E se ela o guardou na geladeira por amor? . Em Psicose, Norman Bates guardava a mãe, morta, dentro de casa. Para suprir a falta dela, ele assumia a identidade daquela mulher amada, que agora era apenas um corpo dissecado, há muito sem vida, mas, ainda assim um corpo cheio de significados para aquele filho. […]
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]]>E se ela o guardou na geladeira por amor?
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Em Psicose, Norman Bates guardava a mãe, morta, dentro de casa. Para suprir a falta dela, ele assumia a identidade daquela mulher amada, que agora era apenas um corpo dissecado, há muito sem vida, mas, ainda assim um corpo cheio de significados para aquele filho. Se tirarmos a coisa horrenda em si, o que notamos em Norman é simplesmente o sentimento do abandono, que de tal grandiosidade e dor o fez guardar a mãe para si, como uma maneira de guardar o amor também.
Da porta para dentro, de nossas casas, só quem sabe o que se a somos nós ou quem convive com a gente ainda que morto e guardado dentro de uma geladeira, por anos e anos. Não é surpresa que um assassino, quando mata alguém, o primeiro impulso seja o de se livrar do corpo. Temos livros, matérias jornalísticas, filmes mostrando isso, pois ainda que a pessoa seja uma psicopata, normalmente, o troféu que se guarda é uma orelha, um olho, uma foto… mas um corpo inteiro, conservado, talvez nos diga mais do que um simples ato de assassinato aparente, mesmo que nenhum crime seja em si algo simples.
E se ela o guardou na geladeira por amor? (volto a te perguntar).
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Pelo menos uma vez por mês, ela esperava a criança sofrida dormir e os vizinhos silenciarem seus cotidianos de necessidades triviais para ali, sozinha, em meio à bagunça acumulada, quieta, tirar as mordaças da geladeira, encontrando com ele. Frio, como sempre, imóvel e sem demonstrar nenhum sentimento assim era ele. E isto não tinha a menor importância para ela, que o abraçava, no centro da sala imunda. A cena, vista de cima, chamava a atenção pela beleza do caos da morte que ali estava instalado há quase uma década.
Sem precisar explicar o sumiço dele aos vizinhos ou ainda receber visitas em sua casa, para justificar um ambiente limpo a alguém, naquele templo, quem controlava o tempo exercido sobre ele era ela. Talvez demonstrar o poder sobre alguém, ainda que já morto, seja também uma das nuances de um amor inexplicável.
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Será que existe amor em um corpo mumificado? Não? E se o calor do amor dela suprisse a frieza do tempo dele na geladeira? Quando a porta de casa se fecha, e dentro estamos nós mesmos, nada mais importa porque nenhuma tragédia teria impacto maior que a solidão de quem se está vivo. Ainda que o crime dela fosse descoberto, todo o amor que o manteve endurecido semi-congelado era o suficiente para justificar tudo isso. Não existiria poder de polícia, língua afiada de vizinho ou julgamentos alheios que diminuísse o impacto do corpo dele sobre o corpo dela, porque o amor de quem se está vivendo, mesmo que só, deve ser capaz de preencher o vazio de quem já se foi.
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No abraço sem vida dele, ela se lembrava dos dias não tão felizes que eles tiveram juntos, lembrava-se do tom da voz de pigarro dele e do cheiro de cigarro impregnado em todos os poros do velho. Ela o abraçava morto, fungando desespero, buscando reviver outras vezes o odor de fumaça que ele expelia quando vivo. Agora, não se podia demorar muito abraçada ao corpo. Não existe morte cheirosa. Ainda que se borrifasse essências e perfumes, o corpo vazio de alma demonstra o seu processo natural de putrefação. Em outras palavras: a relação de abraço e amor ali tinha que durar pouco tempo, pois só guardado dentro da geladeira é que ele poderia dar aquele tipo de amor que ela precisava.
Todo cadáver fica duro, após um tempo de morte, e a posição em que ela o tinha embalado possibilitava com que ela se encaixasse nele sempre que eles se encontravam. Quando ela o manipulou para caber na mala, já sem vida, o montou numa posição fetal e sem saber, fez da mala um útero para protegê-lo. Toda vez que ela retirava a mala da geladeira, e retirava o cadáver da mala, acabava parindo ele e parindo dele ao mesmo tempo. Era o parto de um feto idoso vermelho-mumificado. Não se tinha sangue ali. Tinha dor e medo e afeto, pois o amor dela era assim. E que mais ninguém queira entender.
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Fim.
Para falar comigo, mande um e-mail para o [email protected]. Também estou no Instagram, pelo @jaimenetoo.
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]]>Trabalhei com uma colega jornalista durante alguns anos. Ela chegou “verde”, como a gente fala no jargão jornalístico, ou seja: sem experiência nenhuma, e tudo bem até porque no Jornalismo aprendemos um pouco a cada dia. Era uma convivência harmoniosa, cheia da alegria jovial que ela emanava, como se aquele lugar fosse a melhor coisa […]
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]]>Trabalhei com uma colega jornalista durante alguns anos. Ela chegou “verde”, como a gente fala no jargão jornalístico, ou seja: sem experiência nenhuma, e tudo bem até porque no Jornalismo aprendemos um pouco a cada dia. Era uma convivência harmoniosa, cheia da alegria jovial que ela emanava, como se aquele lugar fosse a melhor coisa do mundo. E não era. Alguns poucos anos depois estávamos nós, dois jovens cansados, do dia a dia na redação. Prazos curtos, sendo mandados por chefes, editores e qualquer tipo de bajulador do dono da empresa. Um inferno em forma de trabalho.
Caminhos dispersados, cada um tomando conta de sua própria vida, mas, o carinho, de quem trabalhou num lugar insalubre junto. E assim continuamos (minha colega e eu) nossa relação de carinho, nos encontros de trabalho, entre um evento e outro. Sempre com cumplicidade e afinco. ados alguns anos, eis que essa minha colega assumiu um cargo de assessora de imprensa de um órgão público. Depois de alguns anos sendo explorada, cansou. O trabalho que era bem pesado e, relativamente, mal remunerado a fez procurar outros ares e então ela sugeriu o meu nome para assumir a vaga que ela deixaria em breve. Na época, eu, que trabalhava numa assessoria de uma entidade educacional, só teria condições de assumir meio período, o que dificultaria substituí-la (uma vez que ela, praticamente, trabalhava 24 horas para uma ex-secretária do Governo de Sergipe). Assim, entrei apenas como jornalista na tal assessoria de imprensa, ficando meio período, o que daria para conciliar com o meu outro emprego, o qual me pagava bem melhor, por sinal.
Até aí tudo bem… o problema é que o novo “chefe”, que entrou substituindo minha colega, era digamos assim: um tanto quanto estranho, pra não dizer de caráter duvidoso…
Ao chegar, o cidadão ou alguns dias avaliando as pessoas, sem com isso se comunicar muito com os demais colegas do setor. Todo dia era aquilo: ele chegava, entrava no Twitter pessoal dele e ava a manhã inteira entre piadinhas infanto-juvenis publicadas no micro-blog e “dando ordens” aleatórias aos “subordinados” – coisas sem sentido algum diante da responsabilidade do cargo ao qual ele tinha sido contratado.
Em menos de um mês na vaga, lá estava ele criticando a pessoa que o indicou, ou seja, minha colega. O jovem rapaz, visivelmente incomodado porque ninguém confiava em suas atitudes e palavras, ficava boa parte do tempo criticando outros jornalistas sergipanos, emissoras, sites e até mesmo as pessoas da própria secretaria, a qual ele agora fazia parte. Um horror de convivência.
Como o jovem rapaz vinha criticando a pessoa que o indicara àquela vaga, afirmando inclusive que ela não sabia escrever… entre outros comentários esdrúxulos… a conversa já tinha chegado aos ouvidos da minha colega, que indignada resolveu marcar um almoço, com todos os seus ex-subordinados para tratar da gestão do tal cidadão. Ela se sentia tão culpada por indicá-lo que chamou todos nós para uma espécie de reunião. Na época, minha colega estava trabalhando num jornal e, mesmo atarefada, marcou o encontro num restaurante da 13 de julho.
Claro que, naqueles dias, eu também estava sendo atingido pelo mau-caratismo do jovem rapaz e seus comentários vorazes. Ainda que eu tivesse explicado a ele que não tinha interesse algum em seu cargo de “chefia”, muito menos em ganhar o que ele ganhava, para me submeter a tantos desgastes, o descompensado ou a me enxergar como um possível concorrente e assim virei mais um alvo de sua boca-mole-infernal.
Tentando entender como é que eu, macaco-velho, estava envolvido naquilo tudo, também participei do almoço para “malhar o Judas”. E ele foi bem malhado por minha colega e por todos nós, descascado, xingado de todos os nomes. Minha tal colega estava inspirada naquele dia. Em média, oitos pessoas estavam mastigando seus almoços enquanto discutiam como agir através de mecanismos de prevenção contra o antiprofissionalismo dele.
Resumindo esse quiproquó: eu pedi demissão para não me exaltar (ou até agredir) o jovem rapaz, e toquei minha vida adiante… outros empregos surgiram logo depois – algo bem normal no Jornalismo de Sergipe. Em Aracaju, a roda, roda bem rápido e ninguém fica muito tempo num só lugar. Hoje dorme-se chefe e amanhã acorda-se na fila do seguro desemprego ou pedindo emprego a algum amigo. São as famosas indicações… isso é normal.
O que não foi normal foi abrir, pouco tempo depois, as redes sociais e ver uma foto de minha colega com o tal jovem-rapaz, ambos sorridentes. O choque inicial só foi menor quando constatei que o cidadão estava na foto do batizado da filha dela. Não que eu quisesse estar no batizado da criança, nenhuma vontade, mas, confesso que fiquei de cara ao notar que tudo aquilo que ela tinha falado sobre ele pareceu nunca existir. E aí me perguntei, na época, se a raiva dela – ao ponto de marcar um almoço para nos contar as atrocidades que ele falava sobre todos nós – teria sido um devaneio meu, e se a quiche de alho poró, caríssima, que comi naquele almoço teria sido uma ilusão da minha cabeça.
Claro que não foi ilusão. Nem eu estava louco!
Assim que eu me recuperei da imagem tacanha daquela foto, minutos depois, liguei para minha colega (alguém que, na época, considerava uma amiga) e perguntei o que tinha acontecido para que, depois daquele inferno que ela viveu com ele e que nos colocou junto, agora estavam assim: em uma foto de batizado, e a resposta dela foi bem simples:
– Sabe Jaime, eu virei mãe. Muitas coisas que ei, eu perdoei. Perdoei ele. Deixei pra lá. Ele conversou comigo e nos acertamos – disse ela.
A tal resposta deixou uma gama de palavras subentendidas, sentidas por mim como mecanismos de superioridade. Lembro-me, que no atravessar de sua resposta estava algo mais profundo, algo como a impossibilidade deu entender aquela cena patética dos dois juntos numa foto, simplesmente pelo fato deu jamais ser mãe, ou seja: virar uma santa! Lembro também de perceber que ela estava tão feliz em ter se tornado mãe, que qualquer outra pessoa, em situação não semelhante a sua, seria impossibilitada de compreender o quão maravilhoso é casar na igreja, engravidar alguns meses após o casamento, daí então dar a luz a uma criança perfeita, com os dez dedos nos seus devidos lugares e respirando bem, uma bebê linda… e que o manto da felicidade e da santidade de se conseguir ser classe-média-média-alta caindo sobre sua cabeça a colocaria no patamar de uma Lakshmi que eia entre os mortais, só para lhes mostrar o quão brilhosa é a plenitude de ser uma mulher completa (esposa, mãe, dona de casa exemplar, deusa, toda perfeita…).
Claro, que não lembro da minha resposta a ela agora, pois já se aram uns 10 anos do ocorrido, mas, desconfio que deva ter sido algo entre a ironia e o descrédito nela, enquanto amiga. Desencantei dela!
O que mais me intrigou nisso tudo, foi ela jogar na alcunha de ter se tornado “mãe” o (des)valor das coisas que ela tinha vivido antes, como se a maternidade tivesse apagado tudo. Entendo que podemos mudar nossas opiniões, nossas atitudes pro bem ou pro mal, mas a justificativa de que ter se tornado “mãe” a teria levado a um nível de santidade, me pareceu tão forçada, tão superficial, que me arrependi de tratar ela sempre com educação e carinho. Hoje, a trato, minimamente, com educação, mas não mais com iração.
Acho, que o mínimo que ela deveria ter feito era reunir todas as pessoas de novo, convidar o jovem rapaz e ali realizar um exorcismo de quem ela foi, de quem ele foi e em meio a essa cerimônia de beatificação generalizada, ela pagar o nosso almoço – liberando quiches de alho poró com Coca-Cola Zero gelada para todos nós. Daí sim, eu teria sido ressarcido daquele almoço inglório do ado e saído de tudo aquilo lembrando ainda mais de quem eu sou: alguém que não confia em quem é boazinha demais.
Fim.
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]]>A relação entre pai e filho, como qualquer outra, tem dias bons e ruins. Em um dia, você acorda agitado, após uma noite mal dormida, mas, ainda assim desce as escadas do seu apartamento – um conjugado no fundo da casa dos seus pais – e, ando por cima de seus próprios problemas, ressacas e […]
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]]>A relação entre pai e filho, como qualquer outra, tem dias bons e ruins. Em um dia, você acorda agitado, após uma noite mal dormida, mas, ainda assim desce as escadas do seu apartamento – um conjugado no fundo da casa dos seus pais – e, ando por cima de seus próprios problemas, ressacas e dores emocionais, se encontra ali, preparando o café da manhã para o seu pai. Você faz os ovos mexidos que ele gosta, o cuscuz do qual ele diz não poder viver sem e prepara o café na medida certa, que satisfaz o desejo dele. Tudo continua como sempre foi desde o dia em que sua mãe, que estava acamada, faleceu. Isto fez com que você assumisse a responsabilidade pela casa, um papel inerente ao de filho mais novo e gay.
Num outro dia, você acorda relativamente bem, no horário certo para enfrentar tudo de novo e sair para o trabalho, acreditando que a vida lhe trará momentos felizes. Novamente, você prepara o café da manhã para o seu pai: os ovos mexidos que ele gosta, o cuscuz que ele diz não poder viver sem… só que desta vez você come rapidamente, em pé, ao lado da pia, trocando algumas trivialidades com o seu pai, como acontece às vezes, num dia também comum. E aí você sai correndo para o trabalho.
Naquele dia, por volta das 10h45, o celular dele tocou e uma voz desconhecida perguntou:
– Este é o número do senhor Júlio?
Ele, sem se preocupar muito com a ligação, em meio às tarefas istrativas do trabalho, respondeu apressadamente que “sim”.
– Com quem estou falando? – perguntou Júlio.
– Aqui é da Defensoria Pública do Estado de Sergipe. Temos aqui uma queixa do seu pai contra você, e estamos ligando para tentar uma conciliação entre o senhor e ele – disse a moça de forma seca.
– Queixa? Conciliação? Meu pai? Sobre o quê mesmo? – questionou Júlio, deixando de lado as pastas de contas, que estavam sendo organizadas (“para o inferno com aquela papelada”).
– Senhor Júlio, o seu pai nos procurou exigindo que você saia da casa dele. Como até agora você não o fez, a Defensoria vai marcar uma data para que o senhor e o seu pai se encontrem aqui e, juntos, cheguem a um acordo.
– Oxe, como assim um acordo?
– Seria melhor ar aqui para saber os detalhes do caso, antes que isto se torne um processo contra o senhor.
– Processo? – neste momento, Júlio estava quase sem lembrar o próprio nome, de tão nervoso.
Sentiu-se tonto, mesmo estando sentado em sua cadeira, e atordoado, ainda que depois de ter bebido duas xícaras de café, de 200 ml cada, no trabalho.
Como a Defensoria só fechava por volta das 13h, ele teve tempo de sair diretamente para lá, para tentar descobrir do que se tratava.
E assim ele fez…
Vestindo-se bem, como sempre, ele não teve problemas em se apresentar à Justiça: cabelo bem arrumado, sapatos amarrados e calça clara, bem o padrão Júlio de ser. A camiseta clara e simples dava a impressão de ser minimalista e descontraído, mas, o brilho do sol no bronze do rosto deu lugar a uma palidez que refletia o impacto da notícia (algo compreensível para alguém que acabou de descobrir que seu pai está entrando com um processo…).
Na Defensoria: a porta automática do prédio se abriu, Júlio andou um pouco apressado em direção ao elevador e pressionou o botão do quinto andar. Subiu. Chegando lá procurou imediatamente pela moça que havia lhe ligado. A tensão era evidente nele: pele do rosto amarelada, a boca seca e um ar de desespero. No entanto, ele tentou aparentar normalidade, demonstrando uma calma forçada, típica de alguém que teme sair dali já algemado, embora ele nem soubesse ao certo a razão.
– Como é isso? Meu pai procurou vocês alegando que eu preciso sair de casa, para que ele possa morar com a mulher com quem ele está tendo um caso? Que absurdo é esse? Que mulher é essa? E desde quando eu o atrapalho em alguma coisa? Meu pai já teve relações com todas as empregadas que tivemos, ele nunca ficou muito em casa, e quanto ao respeito pela minha mãe, ele nem sabe o que é isso. Agora, ele vem pedir ajuda aqui para que eu saia e ele possa viver seu “felizes para sempre”. Minha senhora, eu não sei nem o que dizer. Hoje de manhã mesmo, eu estava preparando o café da manhã dele – disse Júlio, com a firmeza de alguém que tinha sido humilhado pelo próprio pai diante de estranhos.
Júlio estava azedo!
A funcionária da Defensoria olhou atentamente para Júlio. Observou seu cabelo penteado e com gel, sua camisa polo básica, sua calça bem ada (de algodão bom), sua pulseira de couro e seu tênis moderno. Ela repetiu o processo, olhando para cada detalhe outra vez, como se estivesse escaneando Júlio. Enquanto ela o examinava, ele começou a encolher na cadeira, sentindo-se envergonhado. Júlio pensou em voltar para a sua antiga casa e reunir seus irmãos para confrontar o pai sobre ingratidão e maldade. Enquanto a mulher da Defensoria explicava os detalhes da confusão, ele olhava-a convencido de que ela seria testemunha dessa possível futura tragédia familiar.
Ao sair da sala, Júlio ouviu a mulher da Defensoria comentar com uma amiga: “Um a menos, que venha o próximo caso”.
Já fora do prédio da Defensoria, Júlio ligou imediatamente para o irmão mais velho, contando o que estava acontecendo. O irmão não apenas riu, mas gargalhou, mas, no entanto, ao perceber a angústia do irmão mais novo, que na verdade não era tão novo assim, ele prometeu reunir a família para conversar com o pai ainda naquela noite.
– Que escândalo familiar desnecessário. E tudo isto por causa de uma mulher desconhecida para a família! – pensou Júlio.
De volta ao trabalho, Júlio sentou-se em frente ao computador e começou a procurar apartamentos nos classificados. Entre um pensamento e outro, de desespero, decidiu que não participaria da reunião, não tinha coragem de encarar os outros quatro irmãos.
(A reunião aconteceu. E o pai, depois de ouvir todos os xingamentos e acusações dos filhos, anunciou que retiraria a possível queixa contra Júlio, no dia seguinte).
Júlio chegou bem tarde da noite, evitando cruzar com o pai. Não queria brigar, nem nada do tipo. Como seu celular estava descarregado, ele não viu as mensagens dos irmãos avisando que o pai havia desistido de processá-lo. Adormeceu sem saber de nada. No dia seguinte, acordou atrasado e nem viu as mensagens. Desceu as escadas e começou a preparar o café da manhã do pai.
O cardápio era o de sempre: ovos mexidos do jeito que o pai gostava, cuscuz, café na medida certa para o pai. Ainda indignado com o que tinha acontecido no dia anterior, Júlio decidiu que sairia da casa do pai deixando antes uma lembrança: uma mistura de raiva, humilhação e falta de gratidão. Assim, cuspiu nos ovos mexidos, cuspiu na massa do cuscuz e escarrou no café do pai. Pegou o celular (que já estava carregando) e saiu para o trabalho.
O pai levantou e não viu o filho lá, mas agradeceu, silenciosamente, por ele ter deixado o café da manhã pronto, como fazia todos os dias.
Se você quiser falar comigo, envie um e-mail para: [email protected] ou me procure no Instagram pelo @jaimenetoo.
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]]>Depois de alguns anos, volto a este espaço de escrita, para cronicalizar alguns dos meus sentimentos e minhas relações afetivas. Não tudo, para não assustar você, leitor(a). Há dois anos desfiz uma amizade bonita. Na verdade, foi necessário que terminássemos nosso vínculo em prol de nossa saúde mental. Ela e eu vivemos coisas que apenas […]
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]]>Depois de alguns anos, volto a este espaço de escrita, para cronicalizar alguns dos meus sentimentos e minhas relações afetivas. Não tudo, para não assustar você, leitor(a).
Há dois anos desfiz uma amizade bonita. Na verdade, foi necessário que terminássemos nosso vínculo em prol de nossa saúde mental. Ela e eu vivemos coisas que apenas nós dois poderíamos ar, juntos: anos de festas, bebidinhas, músicas, dores, viagens com os pés no chão e cabeças voando… Hoje, compreendo que nada que é bonito tem a obrigatoriedade de ser eterno, porque nem nós mesmos somos, imagine…
Ainda que alguém tenha uma orientação sensível, feminista e complexa, traços de maldade estão, às vezes, estão incrustados e mesmo que demorem, num ponto da vida aparecem e quebram sentimentos. Nossa parcela machista se mostra nas pequenas relações do cotidiano, mesmo que achemos que não, que não somos machistas, estúpidos e agressivos; somos sim! e ao falar aqui de machismo, quero reiterar que trato do machismo de quem nasceu com pau da mesma forma do machismo incrustado em mulheres também. Esse açoite, que castiga e machuca, a meu ver, não é uma característica unicamente do sexo masculino, nem do homem hetero… atinge todos nós. O ser machista está em menor ou maior grau em todos, e para isto aparecer basta cavar um pouquinho que ele estará lá, tipo uma célula cancerígena em estágio inicial.
Dentro das brincadeiras “pesadas”, onde tantas vezes me fiz presente, dentro das permissividades que uma amizade pode gerar, sei, que, algumas vezes, me perdi em ações e falações sem sentidos, que certamente machucaram essa minha ex-amiga. ei os últimos dois anos pensando e repensando nas situações nossas, que causaram dor nela, da mesma forma que relembrei das vezes em que ela me machucou. Das “brincadeiras” que machucam, fui senhor algumas vezes e noutras fui vítima também. Parecia que tudo era permitido, só que uma hora, um lado da balança pesou mais e o que chamávamos de amizade perdeu a leveza.
Se estamos discutimos liberdades hoje em dia e se não aceitamos alguns olhares e preconceitos é porque estamos evoluindo, às duras penas mas estamos, ainda que emos por cima de lágrimas e sorrisos tortos. Acho que ao longo dos meus 43 anos tenho melhorado diariamente, pelo menos eu me sinto assim. Não sei se você aí (leitor/a) já teve a oportunidade de se autoanalisar e perceber suas falhas, suas maneiras erradas de tratar quem o cerca.
Faça isso um pouco, eu recomendo, mas já adianto que esse processo machucará você.
Ainda que eu escrevesse aqui um tratado baseado em remorsos e pedidos de desculpas por cada atitude errada que tive com essa ex-amiga ou com qualquer outro amigo, de nada adiantaria porque o que tinha que ser mudado foi reparado dentro de mim, vem sendo transformado de dentro pra fora, num processo contínuo para reparar e anular minhas tais lacunas tóxicas, sempre prezando por um campo mais simples e honesto comigo mesmo. E aqui não busco uma pureza, uma espiritualidade, um perdão ou perdoar. Não se trata de nada disto, mas de itir que já fui tóxico, do mesmo modo que já foram comigo também, e seguimos.
Sei, que aqui, corro o risco de cair numa armadilha ao confessar minha toxidade (e que às vezes ainda a percebo em mim, só não a cultivo). Escrevo para dizer que se fui tóxico e se foram tóxicos comigo é pra lembrar que a linhagem que descendemos era tóxica também. Vivíamos na reprodução de ações que não cabem mais. Hoje posso confessar algo ruim assim, sem me sentir ferido com isto porque entendo que reproduzia comportamentos. É claro que não é fácil escrever algo desse porte ou me afirmar tóxico – palavra da moda que já vem caindo em desuso também.
Se tem uma coisa que venho aprendendo nos últimos tempos é que precisamos itir que estamos longe de uma perfeição, muito-muito-longe de uma santidade cafona, que assola os mais bobos, que ainda não enxergaram o quão violentos e desonestos, sentimentalmente, são.
ei o ano de 2022 num processo de autoentendimento, analisando-me na tentativa de encontrar-me, saber realmente quem eu sou, dentro das relações que construí ao longo da minha vida. Descobri coisas muito pesadas sobre mim e sobre os outros, mas descobri muita beleza, amor e autocompaixão. Ultimamente ando em linhas tortas e pessoais, onde várias sensibilidades me tocam, e em vários sentidos. Venho percebendo que não me descobri totalmente ainda (capaz disto nunca acontecer).
Voltando a escrever aqui sobre essas coisas, vejo-me em mais um processo de cura, de tornar-me menos peçonhento e incapaz. Vou contando mais sobre o que venho descobrindo nas próximas semanas. Por hora, me sinto feliz em voltar.
Para falar comigo, mande um e-mail pro: [email protected] ou me procura no Instagram, através do @jaimenetoo.
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]]>A coisa funciona assim: – Fala do artista/personalidade: discurso de ódio, asneiras, indução e preconceito contra gay, preto, trans e obesos. – Fala da Internet: vamos cancelar…! – Fala do artista: “ei o dia todo refletindo. E depois de refletir tanto, refaço o meu pedido de desculpas. Aproveitei pra aprender mais sobre o assunto. Sobre […]
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]]>A coisa funciona assim:
– Fala do artista/personalidade: discurso de ódio, asneiras, indução e preconceito contra gay, preto, trans e obesos.
– Fala da Internet: vamos cancelar…!
– Fala do artista: “ei o dia todo refletindo. E depois de refletir tanto, refaço o meu pedido de desculpas. Aproveitei pra aprender mais sobre o assunto. Sobre como ajudar” (discurso de Marília Mendonça, recentemente).
Fim da história. Nada mudou!
O que me faz pensar que o tal cancelamento, febre da juventude, não a de uma maneira de chamar atenção, seja de outros internautas ou até mesmo de quem falou merda, apenas. Porque lá no fundo, bem no fundo do problema, talvez, quem cancela não quer nem mesmo se ater do problema em si, mas causar um pouco. Claro que algumas pessoas levam o “cancelamento” ao pé da letra, mas se a gente for analisar o número de seguidores desses artistas preconceituoso, em nada se alterou, muito pelo contrário eles ganham até mais seguidores, o que é um absurdo, mas que condiz com a atual cena brasileira: somos preconceituosos sim. E no caso dos famosos, estes só pedem desculpa porque a merda se espalha, e eles precisam se “redimir” através dos 280 caracteres do Twitter.
O que estamos presenciando, principalmente, após as várias lives, é uma grotesca cena preconceituosa, onde estes e tantos outros artistas, que já pagaram de “Moderninhos”, não conseguem disfarçar ou esconder o que são: preconceituosos, genuínos. Só que no contexto das falas, dos discursos de ódio, uma coisa que precisa ficar clara é a rapidez com que as desculpas são publicadas, onde falas prontas de assessores já estão sendo postadas assim que as merdas são faladas ou sutilmente sugeridas. O lance aqui não é nem o discurso de ódio em si, que por si só é desnecessário e incapaz de construir laços, mas a rapidez com que as desculpas chegam, e quase sempre são enlatadas.
Cabe ao agredido aceitar ou não tal pedido de desculpas. Você faz parte de qual lado?
Vamos lá…
Num Brasil, que é o país que mais mata transexuais no mundo, sendo que por aqui, a cada hora um gay/lésbica é agredido/a por sua orientação sexual, onde também vemos a cada minuto um preto sendo perseguido dentro do supermercado, e apontado como ladrão, nesta terra linda onde uma pessoa obesa precisa adoecer para se adequar ao olhar alheio, não cabe mais para os atingidos serem apenas o alvo e pronto. É preciso um levante de quem sofre qualquer tipo de agressão em não perdoar um “famoso” ou anônimo, só porque esse ainda não teve tempo de se desconstruir! Não existe isso de tempo para se desconstruir num Brasil que elegeu um presidente preconceituoso, por exemplo.
O tempo não corre pra trás, e se hoje, em pleno 2020 uma pessoa (pública ou não) sugere com risinhos que alguém é menor por simplesmente existir é preciso que se veja sim essa maldade. É necessário que a desconstrução aconteça, sempre e constantemente, eu sei. Mas isso não valida ar a mão na cabeça de quem quer que seja porque essa pessoa (preconceituosa) nunca parou pra pensar que suas falas e atos machucam e endossam a violência. Se for sempre assim, jamais acabaremos com o preconceito visto que o tempo necessário para “ressignificar”, “reaprender”, “requalificar” nunca será finalizado, e será uma constante… se o preconceito é constante o ressignificar precisa ser agora, para assim se criar um escudo.
O mal sorrir de maquiagem numa live sem sentindo. Todos riem. Muitos morrem.
A partir do momento em que amos a mão na cabeça de um agressor porque ele merece uma segunda, terceira, quarta chance estamos dando a outra face para mais um tapa. Se no mundo atual, com o à informação e às falas dos oprimidos, ainda temos pessoas jovens reproduzindo falas de preconceito, não é porque essa pessoa não teve tempo de ressignificar seu olhar, apurar sua fala para não ser preconceituoso, mas sim, porque tais temas nunca foram importantes para serem tratados com respeito.
O pedido de desculpa, não anula o desinteresse em saber que tanta gente vem morrendo diariamente porque estamos acostumados a justificar nossos erros só porque “ainda” não temos educação. Quem não sabe tratar o outro com respeito, quem ri de cantinho de boca ao falar que uma mulher trans é menos mulher porque biologicamente não nasceu com uma vagina, e que por isso não merece ser tratada decentemente, como qualquer outra pessoa… quem comete algo assim precisa sim não ser cancelado, mas anulado socialmente. Não existe nada mais engraçado que um preconceituoso tentando provar que está se desconstruindo. Nada mais engraçado e perigoso!
Está mais do que na hora de se combater discurso de ódio com a mais pura verdade dos fatos: é ódio sim, e não menos porque se pediu desculpas prontas ou se prometeu analisar o que se falou. Enquanto houver mão para acalentar um preconceituoso que diz publicamente que vai mudar não estaremos melhorando ninguém enquanto ser humano, porque ar mão em cabeça de quem fala merda não vai cicatrizar a flecha que atinge o outro só porque o outro se é quem se é!
Sonho com o dia onde um discurso de ódio será combatido juridicamente, acarretando prejuízo financeiro. Acredito na dor que a falta do dinheiro vai causar, mas não acredito que depois de tantos anos, o à informação, essa pessoa mude. Se você ainda crer em contos de fadas, boa sorte caro/a leitor/a!
Para conversamos mais sobre esse e outros temas vai lá no meu Instagram: @jaimenetoo. Estou sempre por lá!
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]]>Abro o olho e leio uma mensagem de um amigo: “não estou bem”. Mas quem está bem dentro dessa rotina de medo? É como se um pesadelo infanto-juvenil estivesse acontecendo – estamos presos em casa (ou não) esperando um perigo que ronda as nossas vidas chegar e acabar com tudo. Somos nosso próprio perigo, uma […]
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]]>Abro o olho e leio uma mensagem de um amigo: “não estou bem”. Mas quem está bem dentro dessa rotina de medo? É como se um pesadelo infanto-juvenil estivesse acontecendo – estamos presos em casa (ou não) esperando um perigo que ronda as nossas vidas chegar e acabar com tudo. Somos nosso próprio perigo, uma amiga médica me contou. Nunca vi o ser humano como algo não perigoso.
Tudo é uma confusão absurda, com informações falsas demais, gente falando demais, onde não pensamos racionalmente em mais nada: só álcool 70, máscara, testes caros e resultados estranhos. A margem de erro de você está com coronavírus é de… seus dados estão insuficientes neste momento.
Fique em casa é o novo vai com Deus! Só falamos por falar. Ninguém vai com Deus porque Deus fica, às vezes nem Ele. Ninguém está em casa somente, ficamos em chácaras escondidos ou em hotéis vivendo um amor. O mundo canta numa só voz: fique em casa, mas muitos estão desejando ao próximo: vai com Deus! Para ficarmos em casa seria preciso termos grana suficiente pra manter o básico: a Netflix em dia, a cerveja gelada e a garantia que o ifood está funcionando perfeitamente bem naquele momento. Somos a geração mais ridícula do mundo: escondemos verdades já conhecidas de todos, somos descaradamente falsos. Moralistas, aprendemos recentemente a falar que todos são fascistas, ao mesmo tempo em que mostramos nossas nuances fascistas também. Brasil é o País do Fascismo!
Quando o sonho, que acabou realmente, se der por satisfeito, veremos que quem morreu morreu e que quem ficou que corra atrás pra saber em que cova rasa seu familiar foi enterrado. A televisão mescla mensagens de fique em casa e compre amendoim pra celebrar o São João em casa, tudo desconexo com o repórter com sua boca cheia de dente corrente atrás do melhor preço da lata de amendoim. Somos a morte pulando a fogueira de vaidade, mas nossas roupas estão engomadas em algum varal.
Nesta peleja covídica, nós aremos ilesos ou transmitindo, mas teremos sim responsabilidades diante da dor de alguém. Isso ninguém poderá nos tirar. Enquanto não assumirmos que somos, brasileiros, e incapazes, não teremos como mudar nada. Falar por falar que alguém fique em casa todo mundo fala porque igual aos papagaios emitimos sons, o problema todo é raciocinar sobre!
Me segue no Instagram, pelo menos lá estamos seguros: @jaimenetoo.
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]]>O mundo se acabando lá fora e você aí escolhendo uma máscara que combine melhor com seu look, como se a dor pudesse ser vestida. Que espécie doentia nos transformamos, né? Lembro que sempre que assistia a alguma matéria, filme e tal sobre o Japão mais moderno tava lá um monte de gente usando máscara […]
O post Com que máscara eu vou!? apareceu primeiro em O que é notícia em Sergipe.
]]>O mundo se acabando lá fora e você aí escolhendo uma máscara que combine melhor com seu look, como se a dor pudesse ser vestida. Que espécie doentia nos transformamos, né? Lembro que sempre que assistia a alguma matéria, filme e tal sobre o Japão mais moderno tava lá um monte de gente usando máscara e andando tranquilamente pelas ruas. Eu ficava tipo: que povo estranho, tudo doente na rua… eu e minha cabeça classe-média-de-merda. O que na verdade eu não compreendia e só ei a perceber pouco tempo atrás é que os japoneses, além de educadíssimos, é um povo que se preocupa com o bem-estar do outro.
O Budismo já tinha me dado uma luz sobre esse olhar para com o meu vizinho. Mas amor, nascer no Brasil, onde o meu vem primeiro, e se eu puder ainda levo alguma vantagem em cima do outro, meio que impossibilita a gente de nos colocarmos no lugar do nosso vizinho. Somos selvagens, na verdade quase selvagens, pois já usamos perfumes importados, trazidos enrolados na cueca de algum amigo pra evitar a fiscalização.
Quantas velas você acendeu hoje para que essa pandemia acabe? Nenhuma, até porque não temos lojas de velas abertas para podermos comprar. E, se tivéssemos, acender uma vela adianta de quê quando temo um presidente pregando que o povo tem que ir para as ruas, abrir comércio, e até viver normalmente? Temos a representação da besta que prega a festa em meio ao caos. E aplaudimos em forma de voto dando aos donos do Brasil o direito de chicotearmos, sem nem ser num ato sexual. Somos mediocremente, idiotas!
Vejo uma pandemia. Vejo um monte de gente louca (inclusive eu) brincando em precipícios onde respiradores custam milhões e não têm autorização legal para serem usados. Produzimos pulmões que não respiram. Tudo errado, mas tudo bem também se a cor da minha máscara combinar pelo menos com o listrado das minhas meias. Os japoneses, sempre de máscaras brancas, usaram o adereço como maneira de evitar propagar doenças ou também se protegerem e não como mecanismo de chamar a atenção! Nosso “ilustríssimo” presidente ou minutos sem saber colocar uma máscara na região boca/nariz durante uma entrevista coletiva e nos tornamos a vergonha mundial que insiste em ser tratada por coerente, mas no fundo sabemos que permanecemos (ainda) dóceis selvagens!
Não existem regras para o uso das máscaras, claro! Na verdade, no Brasil, ferrado, as máscaras viraram o ganha-pão de milhares de pessoas que nem sabiam, talvez, que tivesse que pegar numa agulha e linha pra costurar pedaços de esperanças. É máscara sendo vendida no sinal e na bodega tem de desenho animado e até com a logo do Confiança. Penso que sobreviver, colocar um prato de comida na boca de um filho, deva ultraa estampas e afins, porém, estamos presos num filme de terror, onde não tem final feliz aparente. Somos a morte, temos vírus, e brincamos de Zorro com capa de pano sintético. Nosso clima é quente, sintético só é usado porque é barato. Já fomos de algodão. E Sonhos. E risos.
Hoje, nós somos de medo. Alguns de raiva. E pouca esperança. Mas quase todos de máscara para esconder a dor de morar num Brasil que acabou, mas que não temos coragem de itir. Quando as máscaras saírem de moda continuaremos usando máscaras, para esconder aquilo que um dia fomos taxado de sermos os criadores: a esperança! Como diria o escritor Manoel Silva: “Sorte daqueles que estocaram momentos bons para lembrar”.
Para me dizer como você está se sentido hoje e lá no meu Instagram @jaimenetoo – to sempre por lá!
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]]>Vi sua mãe usando máscara, onde a voz dela, abafada, mostrava a dor. Sua mãe, empregada, precisou justificar e pedir justiça através das redes sociais, para que assim um Brasil-racista possa enfim ser justo com você, Miguel. Piada, né? Sua mãe, que pediu a justiça de Deus, será que ela conseguirá? Sua mãe, que pediu […]
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]]>Vi sua mãe usando máscara, onde a voz dela, abafada, mostrava a dor. Sua mãe, empregada, precisou justificar e pedir justiça através das redes sociais, para que assim um Brasil-racista possa enfim ser justo com você, Miguel. Piada, né? Sua mãe, que pediu a justiça de Deus, será que ela conseguirá? Sua mãe, que pediu a justiça do homem, será que ela conseguirá? Do homem, Miguel, não se pode esperar nada, você sabe! Da justiça de Deus? Só Deus sabe! Que mundo é esse onde, em meio a uma pandemia, sua mãe teve que trabalhar arriscando a própria vida e a sua, Miguel, em troca de dinheiro pra comprar comida? Eu não sei explicar!
O choro de uma criança negra incomoda mais ou menos? Incomoda a quem? A mãe de Miguel precisou levar os cachorros da patroa para fazer suas necessidades na rua. Sua única necessidade era que alguém olhasse seu filho. Para alguns, uma simples troca. Para outros uma troca sórdida. Para a patroa algo injusto, óbvio, porque ela queria se livrar dos cachorros e do filho da empregada e “sabiamente”, a idiota colocou a criança de cinco anos dentro do elevador e mandou ela se virar atrás da mãe. O que a na cabeça de uma pessoa assim? O que ou na cabeça de Miguel, que no alto dos seus cinco anos não soube procurar a mãe? Por que Miguel não foi sozinho, num lugar desconhecido pra ele, procurar a própria mãe? Será o fato dele ter, apenas, cinco anos ter influenciado ele não saber se virar? Meus Deus, Miguel era só uma criança!
Num mundo de adultos escrotos, patrões politizados e escrotos, políticos mais que escrotos: vis, a empregada preta que precisa enfrentar uma pandemia levando seu filho pro próprio trabalho porque não tem com quem deixar a criança é a responsável por tamanha desgraça, quando foi a patroa que colocou a criança sozinha num elevador, facilitando assim com que a mesma caísse do prédio? Por favor, só existe uma única culpada nesta equação: a patroa escrota!
Só penso: coitada da mãe do Miguel, que mesmo dilacerada ainda teve que dar entrevistas pedindo justiça, porque a patroa assassina pagou fiança de 20 mil e saiu linda pra casa, talvez pra terminar de fazer as unhas, começadas antes de despachar Miguel sozinho no elevador. Espero que as unhas dela caiam, porque ela jamais vai apodrecer numa cadeia, pois, caso você não saiba, no Brasil, rico só vai preso em novela mal escrita!
Andamos com dificuldade para respirar, porque o Brasil teima em não reconhecer os bons, favorece quem não presta e enaltece criminosos. O “Brazil” não conhece o Brasil, falava a letra da música, e jamais vai conhecer, enquanto os privilégios forem de poucos, e zero pras mães de Miguel, João Pedro, Antônio…
Que mundo louco esse onde a dor suplantada, criada a partir da morte do filho, precisa abrir espaço para que a aclamação pública contribua pedindo justiça também por ela. Primeiro erro: foi a mulher ser obrigada a trabalhar enquanto os patrões, ricos, estão em casa, de boas. Segundo erro: a patroa impaciente, pelo choro da criança, jogar essa mesma criança à própria sorte. Terceiro erro: ah deixa pra lá. Quantos erros numa única histórica. Numa única dor.
Miguel, talvez, nunca tenha conhecido o significado da palavra sorte: nasceu pobre, filho de mãe doméstica, brasileiro, e caiu do nono andar. Miguel, talvez, nunca tenha tido sorte, talvez, porque vi nas palavras de sua mãe que ele conheceu o que era o amor de mãe. E amor, nos dias de hoje, é mais que sentimento, é uma questão de sorte!
E aí, quantos minutos de silêncio a morte de Miguel merece?
NOTA PESSOAL!
Esta coluna volta depois de mais de um ano de espaço vazio aqui na Infonet. Minha relação com a escrita precisa de sentimento. Como aqui são crônicas, sobre o cotidiano e suas relações, necessito sempre abastecer minha cabeça com a palavra antes de escrever as coisas. Às vezes isso vem fácil noutras vem com sofrimento, mas sempre vem. Escrever, no Brasil de hoje, é mais que um ato é morrer um pouco em cada frase construída. Por isto resolvi voltar porque se for pra morrer, intoxicado pelas coisas ruins do Brasil, que seja assim num site bem lido pra que, pelo menos, minhas palavras ganhem vidas. Caso você ainda não saiba, escrever é morrer também.
Já tem algumas semanas que venho me influenciando por coisas externas. Evito. Luto. Brigo. Mas essa influência é orgânica, me atinge sim! A morte do menino Miguel me pegou num dia qualquer, já estava meio balançado pelas questões políticas e tal, daí a imagem do menino sozinho no elevador me levou pra dentro de um lugar sombrio. Chorei. Sozinho. No meu quarto, entre uma aula on-line e a saudade que eu tava de falar com meus amigos e ver Raphael. Me senti todo errado naquele dia. Me senti sujo em presenciar tamanha crueldade. Eu queria estar naquele elevador com Miguel pra segurar a mão dele e sairmos pra encontrar a mãe dele, na rua do prédio. Mas eu não tava ali e Miguel não está mais aqui.
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]]>Tô na vida beijando a mão do carrasco que não entende do jogo, mas quer jogar. Todos nós queremos jogar, nem que seja o que achamos serem nossas verdades na cara do outro. Tem gente que leva uma busca incansável por ar vergonha como sendo um estilo de vida. O problema é que estamos condicionados […]
O post Nada de verdades, por favor! apareceu primeiro em O que é notícia em Sergipe.
]]>Tô na vida beijando a mão do carrasco que não entende do jogo, mas quer jogar. Todos nós queremos jogar, nem que seja o que achamos serem nossas verdades na cara do outro. Tem gente que leva uma busca incansável por ar vergonha como sendo um estilo de vida. O problema é que estamos condicionados a esse estilo de vida miserável de acharmos que o pouco já basta. Eu mesmo estou assim: beijando a mão do carrasco entre uma chicotada e outra. Por que no fundo eu e você já nos acostumamos com a brisa da dor.
Penso que o peso de cada pessoa não está na balança, mas naquilo que o silêncio se alimentou, e engoliu e nunca cuspiu de verdade. Na verdade o que cuspimos ou está imerso em mentiras ou ainda é superficial. Tudo porque nossas verdades são superficiais e mesmo achando que não, caro leitor, eu e você estamos vagando na margem dos sentimentos, pois na margem flutuam: os pensamentos sem tempo de raciocínio, os amores levianos, as dores nunca curadas e o despeito. Tudo junto flutuando igual a um pedaço de isopor que foi descartado em alto mar depois de ser usado para fazer uma maquete desengonçada, mal pintada e entregue como trabalho escolar. Tudo anda meio feio e sem graça e não adianta maquiagem. Só a verdade mais profunda é bonita e a catedral já é cinza subindo pra avisar que acabou.
Mas quem em sã consciência teria coragem de enfrentar e falar sobre suas verdades? Eu não tenho, na verdade reconheço picos de verdades presentes em mim, mas sei que as pessoas não estão preparadas para ouvir verdades reais sobre mim, sobre as coisas, sobre elas. Assim, vivemos de picos de verdades, onde às vezes falamos e somos repreendidos por tal, pois mais complicado do que falar uma verdade real é ouvi essa mesma verdade real. Nossos ouvidos estão acostumados ao comum, ao banal e, também, a mentira. Quando até um simples pico de verdade atravessa o ouvido, o cérebro reage como? rebatendo o outro em seu momento verdade. Preferimos morrer na mentira, pois nosso eu verdadeiro não tem espaço em lugar nenhum ultimamente, talvez nos poucos minutos de uma oração feita em silêncio dentro da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, mas que pela ambição alheia não chegou a ser oração, provavelmente, um resquício de verdade e só. Ah gente, não temos tempo pra verdades, precisamos itir!
Mas não vou aqui provocar uma ode à mentira. Não falar a verdade pode ser também apenas um momento pra não falar nada. Ultimamente ando com vontade só de me calar e observar. Ter 40 anos deve ser assim mesmo: silenciar a voz, curar as otites e deixar os ouvidos mais afiados pra aproveitar a falta de verdade de nossos dias atualizando só o olhar e o silêncio. O problema é quando não entendem que nosso silêncio nada mais é que a falta de verdade, e querem atitudes e ações nossas enquanto nossas células só querem aquietar as coisas, como uma pedra descendo lá num rio distante, sem ninguém agitar suas águas. Queria escrever bilhetes para algumas pessoas pedindo que respeitassem meu silêncio, seria mais ou menos algo assim:
(nome da pessoa)!
Entenda apenas que suas verdades não me dizem respeito e vice-versa. Não temos mais intimidades para eu falar de verdades com você até porque você nunca se mostrou realmente como você é. Também não cobro você por isto. Te entendo. Então faça o seguinte: me deixe em silêncio. Te amo, te respeito e isso deve bastar, mas não queira que eu me desdobre pra aturar suas meias verdades e aplaudir algo que sei não ser você realmente. Não precisamos ser sinceros um com o outro, basta dar esse tempo de silêncio! Você consegue ver o quanto o silêncio é bonito? Ele (o silêncio) diz muito sobre tudo, inclusive sobre você não falar a verdade e eu sobre me calar diante de tanto tempo perdido sem construção de laços.
Peço que entenda que meu silêncio, minha recusa em sair de mim para com você nada mais é do que o meu cansaço em tentar ser verdadeiro e não conseguir. Só que o que nos torna tão diferentes é que eu cansei e falo sobre isso, enquanto você leva o mundo como um baile, ultraado, mas um baile. Então vamos fazer assim: eu silencio para não ouvir você tentando ser sincera e você me dá esse espaço que é meu de direito. Apenas isso! Sem dramas ou choros, sem raivinhas ou brigas pelo celular. No silêncio que deu vazão ao que deveria ter sido verdade eu quero estar. Sem você por perto, mas vamos nos respeitar!
Fim.
JN.
Assim seria o mesmo bilhete, só mudando artigos e nomes. Deixaria escrito meu pedido de silêncio e sairia de mansinho “como alguém que nunca esteve aqui”.
Para contar sobre suas verdades e pontuar seus silêncios me encontro no Instagram: @jaimenetoo.
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